quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Poeta Alentejano de Odemira 3



           


Não me atires com pedrinhas
Que estou a lavar a loiça
Atira-me com beijinhos
Em modos que ninguém oiça

Muito gosto de atirar
Com alguito
Ao teu pião
Apanhá-lo a rodar
Nas palmas da tua mão

Eu hei-de casar
Com uma velha
Para me fartar de rir
Fazer a cama bem alta
Para a velha não subir



A guerra dos ratos e gatos
1
No monte do rasmenal
Há regimento de ratos
Já se andam exercitando
Para fazer guerra aos gatos
            2
Cada um tem uma espingarda
De canaveilha de centeio
Atiram de metro e meio
Com baguinhos de mostarda
            3
Já têm boné e farda
Cinturão e burnal
Têm uma certesa tal
De atirar com arma mocha
Já mataram 3 carochas
No monte do rasmenal
            4
O almocreve não sabia
Que tinha em casa estes
Sujeitos
Os serviços eram feitos
De noite quando ele dormia
            5
Um dia de madrugada
Era tamanho o espalhafato
Caiam panelas e pratos
O chão da casa tremia
Eram eles com a artelharia
A fazerem guerra aos gatos

           António Felizardo

                                                                                 
 



                      

sábado, 17 de dezembro de 2016

Fado de Coimbra



            Fado de Coimbra

 
O Fado, balada e serenatas de Coimbra
Cantado por homens com as batinas académicas pretas e calça, cobertos com capas de lã  preta. Acompanhado pela guitarra e viola de Coimbra, que têm as cordas afinadas um tom abaixo das de Lisboa.
Cantado típicamente no exterior , na Sé Velha, escadas da Igreja de SªCruz e serenatas por baixo da janela da dama que se quer conquistar.

Os Fados mais conhecidos
Do Choupal à Lapa...em Saudades de Coimbra
Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida...em Balada da Despedida, 1958
O meu menino é d`oiro...fado Hilário e com Zeca Afonso
Samaritana...
 

Fadistas famosos
Augusto Hilário, que em 1895 veio a Lisboa ao S.Carlos cantar fado, onde estava o rei D.Carlos I.
António Menano, 1927
Edmundo de Bettencourt
 
Um pouco de história
Pode-se dizer que O Fado-Canção de Coimbra, nasceu e definiu-se resultante de diversificadas influências musicais formando um folclore urbano gerado pelas diversas experiências culturais dos seus intérpretes e cultores de todo o país e mesmo do estrangeiro.
Sendo um género eminentemente ligado á vida académico-estudantil, o Fado de Coimbra têm na sua constituição semântica e musical os alicerces do seu prestígio e reconhecimento mundial. Interpretado apenas por vozes masculinas, o Fado de Coimbra é uma canção terna, saudosista no seu conteúdo mas jovem no seu vigor e inovação. Seja Trova, Balada, Elegia, Romagem ou Serenata, o Fado de Coimbra continua a deixar as suas marcas em muitos eventos culturais, académicos ou não, que se vão desenvolvendo na Lusa-Atenas, no resto do país e no mundo.

Republica da Saudade, restaurante com fado de, à capella, Quinteto de Coimbra

Balada da despedida

 
Fontes:
            Gentileza e autorização de Nuno Silva, voz da Republica da saudade.
            Resturante Republica da Saudade.

sábado, 26 de novembro de 2016

Gastronomia Alentejana



            Gastronomia Alentejana,    em Campo Maior
           
           
Grão com toucinho e farinheira, receita tradicional do período de 1910-1940.
Põe-se o grão de molho com sal no dia antes de ser feito. Depois esfregam-se os grãos e põem-se numa panela de barro ao lume, deita-se um bocado de toucinho com sal, uma farinheira e uma cacholeira.
            Coloca-se tudo a cozer e quando estiver cozido deitam-se as batatas migadas. Quando estiver pronto deita-se um pouco de hortelã para dar gosto. Bom apetite!
          



Migas, receita tradicional do período de 1940-1980.
            Põe-se o azeite a aquecer, frita-se alhos e entrecosto. Põem-se as migas numa tijela já migadas com sal e água.
            Quando acaba de fritar o entrecosto, adiciona-se ao azeite as sopas de pão já demolhadas e vai-se picando tudo com uma colher de pau. Depois de estarem picadas, faz-se em bola e vai-se dando a volta para tostarem. Bom apetite !









Arroz com bacalhau, receita tradicional do período de 1980 até ao presente.
            Põe-se o azeite ao lume. Frita-se cebola e dois ou três dentes de alho e um raminho de salsa e de louro, pimentão de flor e um bocado de bacalhau. Coloca-se tudo a refogar e quando estiver refogado, deita-se a água e sal.  Põe-se uma panela com água e depois de estar a ferver deita-se os ingredientes da frigideira, deixa-se dez minutos a cozer, tira-se e destapa-se um pouco.
Bom apetite!








           
História da Gastronomia em Campo Maior no século XX:

1910 a 1940
A base da comida nesse tempo eram as sopas de feijão com cove, mogango (abóbora) e batata, e ainda carne de porco e enchidos.
Aos domingos e dias de feira comia-se migas com toucinho frito.
Refeições diárias
            9H---almoço, sopas de cebola, de feijão ou açorda.
            12H---jantar, grão ou feijão.
            17H ---merenda, pão, queijo e azeitonas.
            20H --- ceia, açorda no Inverno e gaspacho no Verão.
Pratos tradicionais
            -ensopado de borrego
            -açorda
            -gaspacho


1940 a 1980
Depois da 2ªguerra mundial, houve muita fome; tal como a previsão de Oliveira Salazar “de que conseguia livrar-nos da guerra mas não da fome que esta traria”.
Continuava-se a comer normalmente as sopas de grão e de feijão com os enchidos.
Domingos e dias de festa comia-se migas com toucinho e chouriço, galinha do campo e arroz de bacalhau com pouco gosto.
Os ricos comiam mais, a sopa e a sobremesa.
            Refeições diárias
            8H --- bebia-se o café com um pouco de pão.
            12H --- almoço, umas sopas ou um bocado de pão com queijo a trabalhar.
            17H --- lanche, um pouco de pão com açúcar.
            20H --- jantar, sopasr4e3de batata ou cebola e açorda com uma sardinha para dois.
            Pratos tradicionais
            Ensopado de borrego
            Migas sem carne

1980 até a actualidade
Actualmente temos muitos pratos e mais fartos.
            Refeições diárias
            9H --- pequeno-almoço, café com leite e pão com fiambre ou queijo, e ou bolos
            13H --- almoço, sopa, 2ºprato de carne ou peixe e sobremesa de fruta ou doce
            17,30H --- lanche, semelhante ao pequeno-almoço.
            20H --- jantar, semelhante ao almoço.
            Pratos tradicionais
            Migas com entrecosto
            Ensopado de borrego
            Doces
            Arroz doce
            Sopa sem pão

           





Curiosidade:
Quadro com os nomes das refeições e horário, dos vizinhos, na Galiza e Espanha
Horário diário

Galiza

Espanha
8H

Almorzo

Desayuno
11H

Café

Almuerzo
14:30H

Xantar

Comida
18H

Merenda

Merienda
21:30H

Cea

Cena

           
Fontes:
-Biblioteca Municipal João do Bráz de Campo Maior;Ocupação de Tempos  Livres de jovens,  em 1997/8.
            -Mariana Peralta, antiga cozinheira da Escola Secundária.
            -Jennifer Fraga Morais, da Galiza.
           

                                                                                                                     

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Culinária tradicional em Cabeça das Mós



Culinária tradicional em Cabeça das Mós, Sardoal - alto Ribatejo

Mós Férias, trabalho realizado com jovens nas Actividades de Tempos Livres de verão em ~2000, na CMCM (Comissão de Melhoramentos da Cabeça das Mós) . Promovido e apoiado por:
Tereza Cascalheira e a professora Terezinha Marques Esperto

            Pratos mais típicos
            1-Couves com feijão
            2-Cozinha fervida
           3-Borrego guisado
           4-Sardinhas em molho de escabeche


         







 

 

Fonte: 
   Gentileza da Tereza Cascalheira



                                                                                        
     

domingo, 13 de novembro de 2016

Estacionar o BURRO em Abrantes



Estacionar o BURRO, Abrantes anos 1940 e 1950

Argola para prender a corda do animal, comum nos palácios, é mais simples nos palheiros

Havia em Abrantes, um palheiro próprio, preparado com palha e argolas de ferro para segurar o burro, onde este descansava e comia, enquanto os donos iam tratar dos assuntos que ali os tinha levado ( à cidade).

                                                Maria Torrada na sua taberna da Barca do Pego aos 80anos

Assim aconteceu com a Maria Torrada nos anos 1950, da Barca do Pego, foi à C.M.Abrantes e estacionou o burro num destes palheiros, como não estava ninguém deixou lá os $50 centavos (5 tostões) para estacionar o burro, em cima da pedra da parede onde ficou o burro.  É verdade era assim, embora fosse dentro dum palheiro com porta aberta, havia confiança entre as pessoas!

Confiança coisa que hoje é uma raridade e estou-me a lembrar da propaganda agressiva de vendedores que andam na rua para mudança de comercializador de energia. Aconteceu com a minha mãe de 85anos; um jovem pediu-lhe a fatura da luz (EDP) para confirmar os dados, preencheu uns papéis amarelos e deixou a cópia à minha mãe em cima da mesa da sala e sem assinar, que também não sabe. Por sorte passei lá no dia seguinte e ao ver um papel amarelo da Endesa(uma eléctrica espanhola) percebi que tinham-lhe feito um contrato de luz para a Endesa. Como temos 14 dias para renunciar um contrato, fui de seguida à loja do cidadão e tive que me identificar e a custo anular o contrato com o preenchimento duma folha para o efeito.  De seguida, fui à loja da Endesa, para não poderem dizer que o correio se estraviou; consegui! Mas é triste! São burlões oficiais em nome duma empresa com estratégias tipo “conto do vigário”!
                                                 Joaquina de Jesus aos 86anos, Carnide, Lisboa

            Agora mais do que nunca “olho vivo e pé ligeiro” como eu ouvia em pequeno ao meu pai.


                                                                                             

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Poeta repentista do Alentejo 2




Se queres ser o meu amor
E viver mesmo ao meu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado

Ciúmes não penses nisso
Atrás de ti já não vou
Como posso ter ciúmes
Se o nosso amor acabou



A desgraça duma Espanhola

Leitores de Portugal
Leiam bem com atenção
O crime de uma espanhola
Faz tremer o coração

Tinha apenas 15 anos
Que moça tão destemída
Em 8 mortos que fez
Nem aos seus poupou a vida

Ela tinha um namorado
Contra vontade dos pais
Diziam-lhe para o deixar
Cada vez lhe queria mais

Ela um dia conseguiu
Escrever ao namorado
Ele assim que abriu a carta
Ficou sobressaltado

Ali lhe mandou dizer
Que a fosse dali tirar
E também lhe dizia
Por onde havia de entrar

Sebastiana de Castilho
Moça de tantos rivais
Com a faca do namorado
Foi a casa matar os pais

Com a mesma faca
Que matou os pais
Matou também dois irmãos
Que era João e Francisco

Foram logo para prender
Estava dentro de um quarto
E os tiros de pistola
Matou mais quatro

Eram quatro autoridades
Que ali perderam a vida
Ainda no mundo se não viu
Uma mulher tão destemída

Para ser mais cruel
As cabeças lhes cortou
Pendurou-as pelos cabelos
E numa baixa os deixou

À beira delas deixou
Um papel bem escrito
Sebastiana de Castilhos
Foi quem fez este delito



António Felizardo
                                                           12/10/2016


sábado, 8 de outubro de 2016

Jardim Primavera em Lisboa




Jardim Primavera, Viveiros na Quinta das Pedreiras, Carnide, Lisboa


           

 Joaquim Custódio Salvador, trabalhou mais de meio século no “Jardim Primavera”. Começou em 1938 com 13 anos e de1941 a 1995, desempenhou as funções de encarregado geral e vendedor.


Origens e chegada ao Jardim Primavera:
Nasceu em Coruche na aldeia da Salgueirinha a16/3/1925, donde saíu com 6 meses para Lisboa, foi morar para a Charneca do Lumiar com os pais Custódio Salvador e Maria da Piedade; de Santa Combadão.
Em 1938 com 13 anos de idade, trazido por o amigo Joaquim Ramos. Veio trabalhar para os Viveiros do Jardim Primavera em Carnide, na Quinta da Pedreira, entrada pela Azinhaga das Freiras. Nesse tempo o ordenado era 4$00/dia e recebiam à semana.
Vinha a pé da Charneca do Lumiar para Carnide, mais o amigo Ramos e regressavam a pé. O trabalho era como no campo de sol a sol, só muito mais tarde é que houve horário de trabalho.


Como era o trabalho no início, anos 30 e 40

Transporte dos materiais
Da loja, na Rua Tomás Ribeiro nº91 e dos viveiros em Carnide, Lisboa; saíam sacos de terra (30Kg) e plantas, que eram transportados às costas e a pé, para os clientes. Por vezes até ao Dafundo.
Faziam expedição de encomendas para todo o país, levavam plantas, terra e árvores para a estação do comboio a Benfica (sempre a pé).

Nesta época em Portugal só havia nesta área de negócio; o Jardim Primavera em Lisboa e outro equivalente no Porto.

Trabalhos que se faziam de jardinagem para grandes clientes
-conservação dos jardins da CML, na década de 1950 e durante 5 anos.
-fizeram o relvado do 1ºestádio do Benfica à 2ªcircular, em 1954. A relva foi semeada e tratada durante 1 ano,  antes, e depois de nascer era feita a devida manutenção.
-fizeram o relvado no Funchal no campo de futebol do Maritimo, cerca de 1943.

Tipos de trabalho, nos viveiros em Carnide-Quinta das pedreiras
-A terra, era trazida dos desaterros feitos para a construção civil de prédios. Depois misturavam-lhe estrume e preparavam-na para vender e para jardinar.
-Preparavam as flores :
            *bolbos
            *plantas
            *sementes
Desde de que nasciam até à venda; que era feita na R.Tomás Ribeiro nº91. Tinham um catálgo com todas as flores produzidas em Carnide na Quinta da Pedreira de Baixo.

O Jardim Primavera tinha em média anual 30 trabalhadores, somando homens e mulheres. No fim da Primavera, quando havia mais trabalho em Junho, o Joaquim ia à Feira do Campo Grande e contratava pessoal, chegando a ter cerca de 50 trabalhadores.


Em 1941-com 16 anos e já corpo de homem, o Joaquim, merecedor da confiança do patrão, foi promovido a encarregado geral e vendedor. Ficando fixo na loja e escritório, só se deslocava à quinta para combinar trabalhos.
Na loja ganhou a alcunha “o conquistador” devido às muitas raparigas que havia na zona e aos namoricos.

1946-casou com a afilhada do patrão, Maria José Pires Salvador, nascida na Guarda em 1920. Passando a morar na quinta na mesma casa dos patrões.
Depois de 1946, passou a estar mais no escritório, já não andava tanto na quinta só em grandes obras de jardinagem.
Atendia os grandes clientes; e tinha poder de decisão nas funções que lhe estavam atribuidas: vendia terra, plantas, máquinas de jardinagem e outros materiais. Negociava os contratos de manutenção de jardins.
           
Cerca de 1950 foi adquirida uma camioneta mercedes que passou a fazer o transporte entre o Jardim e a loja.
Entretanto o seu amigo Joaquim Ramos ficou responsável pelos Viveiros da Quinta de Carnide.

Organigrama do Jardim Primavera


           
Comunicação entre a Quinta e a Loja / Escritório nesta época anos 1950
Havia um telefone na loja (45209) e outro na quinta (780119). Para telefonar dava-se à manivela e chamava-se a telefonista que fazia a ligação para o número pretendido.

Água e electricidade na Quinta da Pedreira nos anos 1950 e antes desta data
Tinham um poço com um motor eléctrico e se fosse preciso tinham também a água duma quinta adjacente.
Tinham água canalizada da EPAL para a casa de habitação do patrão Moreira e do Joaquim Salvador, assim como Luz da CRGE em rede aérea.

Em 1958 o patrão adquire um carro Mercury, para a familia e que servia também para o serviço. Sempre que necessário o Joaquim Salvador acompanhava o patrão ao Porto para ver e adquirir plantas.



 
Evolução dos Viveiros Primavera com a criação de:
1ºRamalhão, S.Pedro de Sintra.........”Floral de Sintra”
2ºPatacão, Faro


Quinta das Pedreiras, Carnide, onde estavam os viveiros do Jardim Primavera
Com entrada pela Azinhaga das Freiras.



Exposições:

1ª em 1940 no Jardim da Ajuda

 Em 1949 na estação da CP no Rossio
 
Em 1960 no Casino do Estoril


 
Em 1964 em Paris, Le Jardin De La Fontaine
 


50ºAniversário do Jardim Primavera, no Pavilhão dos Desportos, 1955
 

 




60ºAniversário do Jardim Primavera, restaurante Serra e Moura do Lumiar, 1965

 



 Edição de catálgos do Jardim Primavera
Catálgo de roseiras 1954-55

Catálgo geral de 1957-58


1990-O Joaquim Salvador reformou-se com 65anos e o Jardim Primavera ainda funcionava nestes moldes. Continou a trabalhar na Firma até 1995, quando a Loja e o Escritório mudou para o Ramalhão, S.Pedro de Sintra, Sintra. Nesta nova situação e já com 70 anos o Joaquim saíu da Firma. Em 1992 o Patrão Moreira faleceu e quem geria era a filha Zulmira da Silva Moreira ( o irmão já tinha falecido com 45anos).

A Zulmira passado algum tempo de estar no Ramalhão, já com tudo lá incluindo e uma nova quinta, vendeu o Jardim Primavera para o Horto do Campo Grande. Contudo o nome Jardim Primavera mantem-se, sendo sinal de qualidade neste mercado.
A antiga Quinta da Pedreira de Baixo com 6HA, onde funcionou o Jardim Primavera agora pertence a  Construções Bernardino Gomes SA”.


Cronologia simplificada do percurso de sucesso durante o século XX, desde a criação até à venda, mas que manteve o nome Jardim Primavera.


               

 2000-o Joaquim deixou a casa da Quinta da Pedreira, quando esta foi vendida e foi morar para a Azinhaga dos Cerejais, onde se mantem ativo com uma horta.



No momento desta conversa amena, o Joaquim estava a apanhar batatas, e recebeu correio dos vizinhos. Com 91anos é um homem merecedor da confiança que depositam nele; um bem haja a este amigo.




                   
                         Joaquim Salvador e Isabel Chaves, espelham a alegria de viver.

O Joaquim Salvador, gostava muito do trabalho que fazia, era com prazer e humildade que o desempenhava. Não se recorda de problemas com pessoal nem com os clientes.




Fontes:
            -Joaquim Salvador
            -Jaime de Almeida Vieira
            -Manuel Barata
            -documentação das exposições nacionais e internacionais
            -documentação dos eventos, 50º e 60º aniversário
            -catálgos das roseiras
-catálgos gerais
            -Quinta das Pedreiras, Carnide


                                             

                                                                                                                                      





                                                                                                         



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Taberna do Ti Bento



            Taberna do Ti Bento de 1931-1982, Cabeça das Mós, Sardoal
                                              

            Iniciou a taberna na Rua do Colmeal junto à curva da mina e morava perto com mais 2 irmãos, a Amélia e o Miguel “coxo”, todos solteiros, mesmo em frente ao sapateiro João Santos. Era uma comunidade interessante, o Ti Bento era taberneiro, a Amélia orientava a casa e a horta na “escorrega” com levada de água da ribeira na Arcêz e o Miguel “coxo” andava com uma bengala a guardar um rebanho. Trazia sempre uma enxada para limpar as valas dos caminhos ou “boeiros”, tipo cantoneiro.
            Para início de actividade pediu um alvará à Câmara Municipal de Sardoal em 1931, que fui encontrar no “site” www.sardoalmemoria.net :

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO CONCELHO DE SARDOAL 1930/1940
Extracto da Acta da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Sardoal, de 19 de Fevereiro de 1931.
ALVARÁS SANITÁRIOS: Foram lidos os seguintes requerimentos, pedindo alvará sanitário nos termos da Portaria nº 6065, de 3 de Março de 1929: ............................. De António da Cunha Júnior, para sua taberna na povoação de Cabeça das Mós. De Bento Pimenta, idem, idem. De Manuel Pimenta, idem, idem. De Joaquim Mestre, para sua taberna, sita na povoação de Andreus. De Joaquim Luís Salgueiro, idem, na mesma povoação. De Miguel Lobato Correia, idem, idem. De Rodrigo Alves Milho, idem, idem.Ao todo 41 requerimentos.

            A taberna no R/C tinha o balcão e fazia armazém no 1ºandar, onde se ia buscar e medir o petróleo, que estava num bidão com torneira. Quando ele fazia o enchimento do bidão ou mexia em petróleo havia sempre um cheiro intenso na taberna.
            No R/C tinha também um móvel de madeira com separadores para produtos como:   Açúcar, massa, farinha, sal, etc . Vendia-se tudo avulso em pacotes de papel pardo e as medições eram em feitas em lata; havia uma balança de pratos com os pesos.
Vendia também fósforos, tabaco, marcas kentuke, definitivos e de onça. Vendia rebuçados a meio tostão, que guardava num frasco grande e de tempos a tempos, dava um rebuçado aos miúdos, que iam fazer os recados às mães.
           
Testemunhos de situações com o Ti Bento:
            O Armando Arrais uma vez nos anos 1960, foi lá comprar tabaco de onça para fazer cigarros, dizendo que era para o pai. Começou a fumar em casa e a mãe desconfiada chamou-o e ele só teve tempo de esconder o cigarro mandando-o para um palheiro. Dali a instantes pegou fogo numa saca de serapilheira e ainda apanhou por isso.
            O Adelino Lopes certa vez nos anos 1960, já “espigadote” queria comprar um canivete, como era uso dos homens e foi ao Ti Bento. Disse-lhe que só tinha 2$50, mas o canivete custava 2$70, logo o Ti Bento não foi na cantiga e o Adelino teve que dar os 2$70.
            O João do café, na década de 1950, era ele que quando ia levar encomendas destinadas a Lisboa, ao comboio a Alferrarede com uma carroça. Na volta trazia os barris de vinho e outros produtos para as tabernas, mas tinha o hábito no regresso de comer uma “bucha” e levava uma palhinha que enfiava nos barris para beber vinho. Dos taberneiros só o Ti Bento inquiriu o João porque é que os barris não vinham cheios, o pobre do João lá se desculpou que a madeira também ensopava o vinho, mas o Ti Bento ficou desconfiado, era muito rigoroso nas coisas.
            O Mário Nunes Melo, da R. Casas Crespas, soube durante os anos 70 que o Ti Bento vendera a antiga casa na R. do Colmeal e foi mais o sogro falar ao Ti Bento o porquê de não ter dito nada. O Ti Bento respondeu “QUE NÃO DEVIA A CABEÇA”.  


Por volta de 1969, mudou a taberna para a Rua 25 Abril Nº8 (designação actual) num terreno dele perto da taberna inicial . Onde funcionou até ao ano da morte do Ti Bento em 1982, já com 84anos, ele tinha nascido em 1898 no século XIX.
            O José Lopes, em  1972, andou a trabalhar na construção duma casa próxima à taberna nova e observou o ritual diário: de manhã os homens chegavam e iam ao copito de aguardente com um figo seco, ao almoço ia-se lá beber mais um copito de vinho, ao “despegar” às 17H (o dia de trabalho já era as 8H) iam conviver bebendo entre copos de vinho e cerveja com uns tremoços a acompanhar; alguns ficavam até às 22H, quando fechava a taberna.
            Medida dos copos de vinho: copo de 2, de 3 e de metade ou palmo.
            Cerveja: superbock, sagres média, cuca e tuborg.
            Sumol de “ananol” e gasosas.

            O Ti Bento era muito religioso, quando estava sem clientes aproveitava para rezar o “Terço” e de manhã ia muitas vezes ao Sardoal à missa, ficando a irmã Amélia na taberna.

           
            Deixo em termos de fecho, uma conversa gravada pelo António “Francês” com o Ti Bento, relativa a pagamentos de empréstimos e uma critica aos esgotos que estavam a ser instalados e não serviam para nada, isto no ano de 1982, o Ti Bento já estava doente. Saliento a voz muito castiça e reflecte a mentalidade de vida muito difícil; de nunca foi preciso e iria custar um dinheirão, e quem paga? Com a explicação paciente e possível do António “Francês” !
            Os tempos de certeza austeros que ele viveu, quando não havia dinheiro, muitas vezes faziam-se trocas de serviços entre vizinhos da aldeia.



                                                                                              

Fontes: Armando Arrais, Adelino Lopes, João do café, José Lopes, António Francês, Maria do Céu, Irene, Mário Nunes e  Joaquina de Jesus e o site “Sardoal Memória”.