Alexandrina
nasceu em Midões, Tábua a 29/12/1922 tem 92anos.
Morou na R.Palma e em 1945 veio
para a Vila Guimarães nºAS em Carnide.
O leite, nem sempre foi comercializado em pacote como é hoje.Era
vendido avulso, porta a porta, logo após
a ordenha das vacas. Não havia forma de conservar o leite como há hoje; no frio
ou através das técnicas de pasteurização.
A venda era feita de
manhã e à tarde; visto as vacas serem mugidas duas vezes ao dia; 365 dias por
ano. Não havia dias de descanso. A venda
do leite porta a porta durou cerca 16
anos; entre 1946 até 1962.
Em Carnide,havia um casal de leiteiros,(designação dada aos
profissionais da venda de leite) que iniciaram o negócio com um trespasse de 9
000$00 escudos ao Sr.Armando da R.Norte nº4 em 1946.
Tinha um contrato para comprar todo o leite produzido nas
quintas:
Barradas –> Zé Pequeno
Serrado –> António
Camareiras –> Chico
A actividade nas quintas geria-se da seguinte forma:
Por exemplo se a quinta tinha 12 vacas, só iam a cobrir 3 de
cada vez, para haver sempre leite e crias para venda. O leite era todo para a
distribuição, pouco ou muito. Com pouco, cortava-se um pouco por cliente menos
em quem tinha filhos.
No verão quando faltava o leite, chegavam a ir comprar leite
à Pontinha, com uma bilha de 20litros. Era um comerciante da Póvoa de SºAdrião,
que o transportava numa camioneta e negociava ao fundo da R.SºElói.
O leite era trazido pelo casal, das quintas, numa bilha de
20litros. Em casa era dividido para bilhas mais pequenas de 4litros e 7 litros,
em latão. Depois seguiam para a venda. Levavam as medidas de 0,25l, 0,5l, e 1litro
para medirem para o vasilhame do cliente.
Na venda ganhavam um
cruzado por litro, compravam a 2$60 escudos e vendiam a 3$00 escudos *. Não
tinham pregão. Batiam à porta e anunciavam: - A leiteira! Contundo, deixo aqui
o pregão do Bairro da Urmeira.- “A
leiteira mais famosa do mundo, o leite ainda está quentinho”! Apregoado
pela leiteira do BºPe Cruz-Paióis que trazia leite da Escola Agricola da Paiã **.
A venda tinha uma
vigilância constante de fiscais da Intendência Geral de Abastecimentos, com o
densímetro na mão, para garantir que os magros proventos da venda não eram
aumentados à custa da adição de água. Dava prisão no Limoeiro.
Só podia ser leiteiro quem
possuísse o “cartão de sanidade” e fosse sócio do Sindicato Nacional dos
Vendedores Ambulantes de Leite. A C.M.L. fiscalizava a higiene das bilhas e o
selo de aferição das medidas, que era anual.
A volta da distribuição
começava pelas 6H da manhã, pelas ruas de Carnide velha e estendia-de para além
da R.Fonte pela Estrada da Luz até ao
palácio dos Bem Saúde. Sendo os melhores clientes os Bem Saúde e o Dr Palma Carlos à R. dos Soeiros,
com cerca de 3l cada. À tardinha vinha o homem que acendia os candeeiros de gás
com o varão, e no Inverno apanhavam grandes molhas porque não dava para levar
chapéu na distribuição.
Por volta de 1960,
as quintas foram obrigadas a vender todo o leite à UCAL . E o casal alterou a
forma de distribuição. Comprou uma alcofa grande, com duas pegas de junco, para
transportar as garrafas de leite de 1litro, 0,75litro e 0,50litro compradas no posto de venda da UCAL em
Carnide, R.Neves Costa nº38.
Outros destinos do leite das Quintas de carnide:
1-Da Albergaria no Lºda Luz nº1, atual Parque Social. O
“Pipoca” levava todos os dias numa carroça com um macho, 2 bilhas de 25L de
leite para Belém, Casa Pia.
2-Do Convento de Carnide de SªTeresa, R.Norte nº45, o “Parriot”
(Alberto) levava todos os dias duas bilhas de leite de 5L para o Hospital
S.Luís dos Franceses no BºAlto, ia a pé e de elétrico. Pertencia também à Ordem
das Vicentinas de S.Paulo.
* informação obtida
na venda de leite na Graça, Lx aquando da chegada da UCAL.
**informação da Nora da SªAlexandrina, Maria Conceição que
casou com o filho Jorge.