domingo, 15 de maio de 2016

Poeta repentista do Alentejo 1





Poeta repentista e brejeiro, focado na adolescência do seu Alentejo.   
António Felizardo, n30/3/1942 em S.João de Negrilhos, Aljustrel. Foi técnico de manutenção numa torrefacção de café em Lisboa. 
           
Lá porque eu era um miúdo
Passavas toda emproada
Hoje por mim davas tudo
Mas eu não te quero para nada
É um miúdo qualquer
Dizias à gargalhada
E como grande mulher
Passavas toda emproada

Passavas toda emproada
Cresci já não sou criança
Estou certo não me iludo
Se eu te desse essa confiança
Tu por mim davas tudo


Não penses que por eu cantar
Que a vida alegre me corre
Eu sou como o passarinho
Tanto canta , até que morre

Camioneta da carreira
Espera aí que eu também vou
Levo as cartinhas de amor
Só a minha cá ficou

Namorei-me namorei-me
Não me soube namorar
Arranjei um ingrato
Que não me soube estimar

O meu amor é padeiro
Trás a cara enfarinhada
Os beijos sabem-me a pão
Não quero comer mais nada

Esta moda bem cantada
Bailada como ela é
Faz desengonçar os velhos
Que fará quem novo é !

Se o teu novo namorado
Souber contas de somar
Não lhe contes o passado
Pois tens muito que contar

Passei por Vila Viçosa
Em Borba não quiz ficar
Andas dizendo ó ranhosa
Que eu te quero namorar

Tás ti rindo
Tás ti rindo
Tás fazendo mangação
Mangação faço eu de ti
Tu imaginas que não

Há para aí um cantador
Ou alguma cantadeira
Que queira cantar comigo
Debaixo da brincadeira

Debaixo da brincadeira
Eu vou-te já responder
Tu para cantares comigo
Tens muito que aprender

Tem coisas Ti Manel
Tem coisas
Tem coisas, mais de aturar
Mandou fazer uma açorda,
E agora não a quer pagar

Agora  não a quer pagar
Agora não a quer comer
Tem coisas Ti Manel
Tem coisas
Tem coisas mais de entender

                                                        
                                                                                            António Felizardo

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A cor no cartaz, 1976



Já vem dos primórdios da civilização o desejo de o homem comunicar as suas ideias e crenças.
Ele começa por pintar nas paredes das  cavernas quadros alusivos à sua religião.
Mais tarde, este meio repercute-se e evolui. Nas ruínas da Mesopotâmia, Grécia e Roma aparece-nos frases ilustradas de propaganda política.
Hoje, mais do que nunca, devido ao desenvolvimento da técnica, o cartaz ganha grande relevo social.
É o meio publicitário mais acessível ao público. Encontra-se por todo o lado, na rua, nos estabelecimentos, como que impondo-se, ao mesmo tempo que dá um tom alegre e decorativo ao local

onde se encontra.

Mas antes de aparecer junto do público, o cartaz é planeado e rigorosamente estudado em todos os aspectos.
Ele tem de despertar imediatamente a atenção, ao mesmo tempo que dá o máximo de informação sobre o tema que versa.
Assim, as possibilidades informativas de um cartaz dependem de vários factores:
-localização;
-texto;
-foto ou desenho;
-a cor.
            A localização deve ser feita nos locais de maior circulação do público. O texto, curto e acessível. O desenho ou foto vão concretizar o que o público sentirá ao ler o cartaz, levando-o a desejar adquirir o produto e até a sentir uma certa confiança no mesmo. Por fim, a cor.
Esta é o elemento mais importante do cartaz, porque ela despertará imediatamente a atenção do público. Mas o cartaz também pode ser a preto e branco, só que passa despercebido, enquanto o colorido se impõe apelando à curiosidade.
As cores do cartaz podem-nos dar variadíssimas sensações. Por exemplo: conforto , calor, equilíbrio, economia, alegria, etc. E como?
Ora, se analisarmos algumas cores, veremos que elas nos transmitem algo.
O vermelho é uma cor alegre, gritante. Pode-nos dar a sensação de calor, alegria. O verde e o azul, cores que não cansam, podem simbolizar para nós calma, frescura, segurança, ou frio, melancolia.
O amarelo é uma cor luminosa, dá uma certa alegria quando entra no conjunto, enquanto o laranja é uma cor estimulante.
Assim, no cartaz, estas cores devem ser usadas com o máximo de contraste. Mas sem magoar a visão do receptor. Porque esse tipo de publicidade, chamada de “choque”, não resulta. O contraste exagerado fere a vista, e não só. Ela exerce uma irritação sob o sistema nervoso, que faz o público evitá-la e, por vezes, criar aversão pelo produto anunciado.
Mas num cartaz podem-se usar variadas cores, tanto as quentes como as frias. Tem de ser é com um certo cuidado, nunca se deve exagerar na sua utilização. Porque isso dispersa o leitor, que, por vezes, vê tudo menos o produto anunciado.
Geralmente na periferia do cartaz usam-se as cores frias, indo gradativamente para o centro com as quentes, porque é o ponto chave do cartaz.
Todos estes factores têm de ser atendidos no cartaz, desenhado e pintado.
Mas hoje a foto colorida é a mais utilizada no cartaz. Por vezes, utiliza-se também a foto a preto e branco, mas geralmente está enquadrada numa cor que desperte a atenção. Então o fotógrafo tira uma série de fotos. Daí escolhe-se a mais adequada para anunciar o produto e aplica-se ao centro do cartaz, ou ela será o próprio cartaz. Assim o público vê o produto dentro do seu ambiente. É um processo bastante eficaz. Exemplo:
A Schwepes utilizou, para o lançamento dos seus sumos de frutos no mercado, o seguinte cartaz:

                                                


Como podemos observar, a foto colorida engloba; o fruto, a garrafa, que nos dá a marca e o copo com o sumo extraído.
Todo esse conjunto irá criar no público a confiança naquela marca, porque o sumo é autêntico. O que será óptimo para a saúde. Ao mesmo tempo que nos saciará a sede.
Se este cartaz não fosse colorido, perdia quase todo o seu valor. Porque o que desperta a atenção nele é o seu enorme fruto nas suas cores naturais. Depois, o texto é secundário, o raciocínio está feito.
E como este à uma infinidade de cartazes a cosméticos, doces, alimentos, sumos, vinhos, frutos, etc.
O conjunto de sensações, a motivação para adquirir o produto e de certo modo a confiança que sentimos nele, é-nos dada pelas cores que nos transmitem as suas mensagens, sem que nós nos apercebamos. Assim o seu impacto faz-nos adquirir o produto anunciado nos cartazes.
A cor é um jogo que faz parte do dia a dia e nos atrai de tal maneira que é difícil resistir-lhe. Ela é um pouco de nós. Através dela nós revelamos a nossa personalidade, o nosso carácter, os nossos desejos.
Ela faz-nos transparecer sem que nós nos apercebamos. Por isso ela é tão utilizada nos meios publicitários.

Por Maria de Fátima Penha Garcia,
aluna do curso complementar da Escola de Artes Decorativas de António Arroio.
Publicada na Revista Nacional de Artes Gráficas “PRELO”, Janeiro-Abril de 1976


domingo, 1 de maio de 2016

Distribuição de leite em Palma 1954-1966



            Venda de Leite por Emília de Jesus Paiva – Palma, S.Domingos Benfica

                               
Morou na Vila Ventura nº2, à R.Antónino Sá, depois do nº21 do Rossio de Palma.

A mãe do Manuel Vieira Paiva, Emília de Jesus Paiva, foi negociante de leite em Palma, entre 1954 e 1966, durante12anos. Depois arranjou o negócio da fruta na praça do C.Grande. Trespassou o negócio  que já estava mais fraco, desde o aparecimento da  UCAL com o leite pasteurizado.

Comprava o leite no depósito de leite na Estrada de Benfica nº251D, hoje talho “Casa dos Frangos”. Perto da entrada lateral do Jardim Zoológico.

Transportava-o em 2 bilhas de 10L e 2 de 5L em zinco com janela de calibre; e era levado às costas, com ajuda do marido(às vezes) e filho de 8anos, Manuel Vieira Paiva.
Era uma mulher com muita força e determinação, não havia água canalizada em Palma e ia com 3 bilhas de chapa buscar ao fontanário do Lº de palma, trazia 1 bilha à cabeça e mais duas nas mãos até casa na Vila Ventura.

Comprava-o a 2$60 e vendia-o a 3$00, era uma actividade muito vigiada por fiscais com densímetros, para detectar eventual mistura de água para dar mais lucro, dava prisão.

Locais de venda, não tinha pregão, as medidas mais usadas eram o 1l e o 0,5l.

1º cliente era o Conde de Caria (dono da C.Santos-Mercedes), vendia10l de leite=1 bilha, já em Sete Rios.

2ºcliente era o Dr.Palma Leal, 8L de leite e deixava a bilha que iria buscar com a sobra de leite mais tarde, na subida R.Calçada de Palma de Baixo nº4.

                
  3ºcliente e seguintes, depois começava a pequena distribuição de 1L e 0,5L de leite;  a seguir nesta R.Calçada de Palma de Baixo e seguindo:
para a zona onde hoje está a U.Católica
Largo de Palma
R.Antonino Sá
Rossio de palma
Vila Ventura
R.Particular à estrada da Luz, e casal de SªQuitéria
* chegada à estrada da luz, voltava atrás à casa Palma Leal a buscar a bilha com a sobra e fazia a estrada da luz até onde hoje está a Galp, início do BºS.João.

A venda de leite era diária incluindo aos domingos, 365 dias por ano.
As sobras eram guardadas no frio só por volta de 1960 e dizia ao filho: “bebe que esse é todo teu”.
A lavagem das bilhas era importante, senão azedava o leite.
                                              Manuel Vieira Paiva, nasceu em 1946, Palma