EDIFER, empresa de construção civil com
origem na Cabeça das Mós, Sardoal
No século XX, chegou ao topo
nacional como 6º ”player” na construção civil
Fernando Pires Coelho, nasceu em
1920 na Cabeça das Mós. Era duma família de carpinteiros, e cedo começou a
profissão de carpinteiro.
Veio para Lisboa novo, trabalhou
na carpintaria de Silvério Lourenço, que era da Presa, Sardoal. Estudou à noite
na Escola Industrial Machado de Castro tirando o curso de Construção Civil, e recordava
muito o ter que ir para a bicha do carvão, estamos na época da 2ªguerra mundial
a atravessar tempos difíceis.
Trabalhou para vários patrões, havia pouco trabalho e era
constantemente despedido, às vezes só tinha trabalho para uma semana. Até que
prometeu a ele mesmo que ninguém mais o despediria, ia criar a empresa dele,
decidiu avançar sózinho por volta de 1945.
Concorreu a pequenos trabalhos
até que concorreu à remodelação do Quartel Militar de Elvas que correu muito
bem. Foi o 1ºtrampolim, continuou a tomar obras e a dar trabalho também aos
irmãos e a trazer trabalhadores da Cabeça das Mós e aldeias próximas.
Em 1953, constituiu a
Sociedade de Construção Fernando Pires Coelho Lda, mais o sócio (cunhado)
Amaro Lobato. Os irmãos como já se tinham afastado criaram também a sua Sociedade
Pires Fernandes, e Irmãos Lda (Joaquim, António, Luís e Providence).
Destaco dois casos de trabalhadores nestas Sociedades.
1-1960/1 o João Pereira da Cabeça das Mós,entrou na Sociedade do
Fernando Pires Coelho, numa obra dos Olivais com Pareceria, conta como eram as
condições difíceis nas obras em termos de dormitórios, pouco espaço, pouca
higiene. Tem a história curiosa de sendo servente na Construtora Abrantina,
apresentou-se como pedreiro nos Olivais em Lisboa, indo comprar ferramenta
velha à Feira da Ladra, para parecer que já trabalhava à muito na arte! Claro,
puseram-no à prova na feitura dum muro,foi muito duro.
2-1965 o Ti Bejamim mais os filhos João e Adelino da C.Mós, foram
trabalhar para a Sociedade Pires Fernandes e Irmãos; vieram de comboio até
SªApolónia, Lisboa e foram a pé para uma obra nos Olivais na Qª da Laje. Daqui
foram para a obra da Estrela na R.Borges Carneiro, construção dum prédio. O Eng da obra e dono fazia exigências
anormais, estiveram só um mês e uma noite por ordem do patrão abandonaram a
obra levando todos os materiais para outra obra a Escola Madre de Deus,
terminando assim o contrato.
Na placa; EDIFER: Firmeza, Vontade, Perseverança
Fundação 1966
Fundação 1966
Neste percurso de família, em que concorriam
entre si, decidiram dar um passo maior, e em 14 de Abril de 1966 criaram a:
EDIFER-Construções Pires Coelho & Fernandes, S.A.R.L.
Unindo 5 irmãos e o amigo Amaro Lobato de Entrevinhas. Desactivando as
ex-empresas.
O primo Carlos Alberto Pires Coelho que começou em
1961 na Sociedade do Fernando Pires Coelho, fez o depósito de constituição
da EDIFER na C.G.D. em 1966, ficando a partir desta data como tesoreiro da
Edifer e até 2006.
Em 1967 a Edifer inicia a actividade com a construção do
prédio ao lado do Café Califa em Benfica, Lisboa.
1976-Aquisição
de mais terrenos anexos às instalações da Venda Nova, o Fernando Pires
Coelho viu a oportunidade e avisou os irmãos da vontade de comprar, e assim
aconteceu, adquiriu:
-terreno nas costas e contiguo da Edifer que era da
C.M.Amadora para oficinas e cresche.
-terreno oposto dos cabos Celcat, onde se instalou os
dormitórios do pessoal deslocado.
-terreno oposto da PT, onde se instalou grandes oficinas.
Fez uma almoçarada com o pessoal e os irmãos não
compareceram, passado pouco tempo todos lhe deram razão da visão para
oportunidade de crescimento sólido da Edifer.
Construções que foram marcos de crescimento da empresa
-1966 a1969 Palácio da Justiça de Lisboa, deu-se o grande impulso na Edifer com esta
obra.
-1988 com o projeto e a construção do Banco Lioyds, veio o
prémio Valmor desse ano.
-prédio da PT para instalação da central das Laranjeiras.
-museu de Etnologia, em Belém.
Obras que revelam a capacidade de resposta para construções
com fins muitos diferentes, não se cingindo à habitação. Esta foi concerteza a
1º grande aposta.
Criando formação interna.
Criando condições e conseguindo a certificação ISO9001 e
outras.
A Edifer chegou a ter 9081
trabalhadores, no auge da construçao civil em Portugal.
Ràpidamente os trabalhadores da EDIFER, na sua maioria de
aldeias do Sardoal, como a Cabeça das Mós, Alcaravela, Serra; organizaram-se,
contrataram uma camioneta que os levava à 6ªfeira á noite e os trazia Domingo à
noite para Lisboa.
Organização tipo nas obras EDIFER
A empresa tinha um grupo
de Arquitectos para desenhar os projectos e também contratava fora, chegou
a contratar o Siza Vieira.
Em cada obra havia um só encarregado com um alvorado e um seguidor, lembro aqui alguns
encarregados (3 irmãos da Cabeça das Mós)bons e muito respeitados a dirigir
obras e homens:
Ti Jerónimo
Custódio ou “Mata Pretos”
José
Custódio
Manuel
Custódio
Depois havia um engenheiro que orientava geralmente mais do
que uma obra e até três que visitava diáriamente. O engenheiro Gabriel Santos
(vindo da Casa Pia) foi um dos primeiros.
Escritórios, oficinas,centro de formação, refeitório,
cresche, dormitório e tribunal de justiça, na Rua das Fontainhas, Venda
Nova. O 1ºmotorista de serviço foi o Ti Romeu na sede.
Vou destacar o tribunal, criado pelo Joaquim Bruno
Pires Coelho para resolver sempre que possivel os problemas dentro da empresa,
como acidentes de trabalho e problemas laborais com o pessoal.
Na Edifer estava o Sr Barata, que era duma companhia de
seguros para ajudar a resolver os problemas de acidentes de trabalho.
Nas decisões do tribunal estava sempre o Joaquim Bruno Pires
Coelho.
Na Páscoa, em Abril a EDIFER dava 1 mês de ordenado a todos
os operários, com informação dos lucros e dos prejuízos e em que obra, por
ordem do Joaquim P.Coelho.
Vencimento era mensal, o apontador ia a cada obra e
levava os envelopes com o dinheiro de cada trabalhador.
Acordos entre
empresas, para responder a grandes obras:
-ACE ->
associação complementar de empresas por projecto, tem autonomia financeira, de
recursos humanos e decisória em todos os momentos da obra.
-Consórcio ->
contrato particular, são feitos relatórios mensais para as empresas e elas é
que tomam as decisões, é um sistem mais difícil de caminhar, está sempre
dependente.
Depois da crise mundial de 2009 a Edifer que já estava com
dificuldades, foi-se agravando até ser vendida.
2016-a EDIFER foi
adquirida pela “ELEVO” em conjunto com mais 3 empresas. Neste momento
16/11/2016 as instalações da Edifer na Venda Nova, rua das Fontainhas começaram
a ser demolidas e o espaço vai ser utilizado na construção de um condominio
fechado de luxo.
Histórias na
Edifer
1-Episódio
marcante na vida do Daniel Semedo; que fazia a manutenção de máquinas.
Estava a trabalhar em 1976 num prédio das Pedralvas,
Benfica. Recebeu uma ordem vinda do Joaquim Pires Coelho da admistração para ir
trabalhar para a obra do Palácio da Justiça, ele informou o encarregado “Mata
Pretos” e foi levado pelo Ti Romeu para a dita obra.
Ficou a trabalhar no turno da noite, o Daniel conta que
estavam a fazer os caboucos do Palácio da Justiça e andavam lá cerca de 200
marteleiros a abrir os caboucos em rocha. Ele andava com 2 bidons de 12l de
gasóleo e funil a encher os depósitos dos compressores, reparava com
braçadeiras os furos nas mangueiras que levavam a pressão, substituia correias
e resolvia outros problemas. O encarregado desta obra era o Sr Quinas.
Uma noite depois de jantar apareceu lá o Joaquim Pires
Coelho, equipou-se com roupa de segurança e pediu ao Daniel para irem ao fundo
da obra aos caboucos. Ouviam-se os martelos mas a luz estava apagada. Disse ao
Daniel para ligar o gerador, e logo a iluminação mostrou os martelos a
trabalhar sem ninguém (estavam seguros). Saíram do fundo e o Joaquim perguntou
ao Daniel pelo Sr Quinas ao que este respondeu que tinha ido para o escritório e jantar, despediu-se e
passado dias chamou o Daniel à administração à Venda Nova. Quando ali chegou os
administradores estavam reunidos, a dada altura o Joaquim virou-se para ele e
disse:
“você mentiu para mim, essa cartilha já a tinha deitado fora”, e
acrescentou “tu mentis-me, nunca mais o faças, diz-me só a verdade, regista
isso e fica com isso na tua memória”.
É claro que o Daniel sabia que o sr Quinas tinha ido jantar
e, só costumava aparecer de manhã.
Depois disto, foi para lá o encarregado “Mata Pretos” e o Sr
Quinas veio para o escritório, e ficou à espera de nova obra.
2-Cais das Colunas,
na Pç Comercio, foi desmontado em 1996 aquando das obras do metro, pela EDIFER.
Os 500blocos de pedra foram guardados nas instalações da Edifer na VendaNova e
posteriormente a CMLx guardo-os, foi reinstalado 11anos depois tendo como
dificuldade principal lidar com as marés.
3- Histórias de
Vidas e ciclos de vivências, ~1970
a 2000, Contratadores de camionetas
mais ligados à Edifer:
-Piçarreira e Florêncio de Alcaravela
-João Matos de Entre Serras
Lembro-me do meu pai João Pereira, quando queria ir à C.Mós
combinar a camioneta e íamos apanhá-la na 2ªcircular na Ponte da Luz às 19H de
6ª e regressávamos às 20H de Domingo da C.Mós.
Era cómodo ir à aldeia, levar e
trazer coisas, e no regresso de Domingo à noite era comum a alegria e as “bebedeiras”.
Motorista José
Machado- mora na Tesoureira, a Cabeço de Montachique; trabalhou como motorista
na empresa de camionagem da Póvoa da Galega até
~ 2005.
Práticamente durante 30 anos fazia muitos extras de fim de semana;
a camioneta era alugada ao fim de semana, ia 6ª à noite e regressava no Domingo
à noite, para levar o pessoal à terra, que trabalhava em Lisboa.
Terras de Sardoal, Vila de Rei ,
Tomar. Depois de deixar o pessoal ia a Tomar apanhar o comboio para Lx e no
Domingo voltava para pegar na camioneta e apanhar o pessoal das terras e trazer
para Lisboa, já pela noite dentro. Na época das festas em especial no Verão,
era convidado a ficar numa das aldeias e fazer em média mais 2 serviços:
-no Sábado à noite levar o
pessoal às festas
- e no Domingo de manhã levar as
velhas à missa das 9H;
Ganhando o motorista, o contratador e a firma também um
extra para gasóleo.
Neste ciclo de vivências, chegou-se a alugar camionetas a 3
firmas.
Os velhos reformaram-se, os filhos estudaram e ficaram a
morar por Lisboa e arredores. Os que vão à terra já vão nos seus carros, de
modo que acabou este tipo de transporte.
4- História do
dinamismo empresarial da Edifer.
A Edifer de Albertino António
Bernardo por Celso Filipe 25 Março 2012(Jornal Negócios)
Há quarenta anos, ia para a porta da
Edifer, na Venda Nova, à espera do toque da sirene que anunciava a pausa para o
almoço. Às vezes para entregar ao meu tio a marmita com a refeição, outras para
lhe fazer companhia até casa.
O meu tio, Albertino António Bernardo, comprava madeira para
a Edifer, fiando-se no olhar clínico de quem não tinha feito outra coisa na
vida. Ele tinha orgulho na empresa do Coelho e do Fernandes, que por essa
altura estava a singrar. E eu tinha orgulho nele, porque trabalhava numa
empresa com nome e como sobrinho ainda tive direito, em uma ou duas ocasiões, a
uma prenda de Natal. De vez em quando, também, visitava o grande armazém,
espantado com a quantidade e a diversidade de madeiras que se acumulavam em
pilhas gigantes. O meu tio era feliz na empresa e isso fazia-me feliz a mim.
Quando se reformou, a Edifer fez uma festa bonita e ofereceu-lhe uma estátua
evocativa da data, que ainda hoje guardo em casa. ......(inicio do artigo).
Fontes:
Livro dos
25anos da Edifer-1966 a 1991
Carlos
Alberto Pires Coelho
Adelino
Pimenta Lopes
João
Pimenta Lopes
Adelino Falcão
José
Pimenta Lopes
João
Pereira
Daniel
Semedo
Internet,
Celso Filipe
Conferência no Palácio Bon Sejour-Lx, DªAlexandra Carvalho Antunes "Cais de Pedra",2017 José
Machado, motorista dos fins de semana.