domingo, 26 de novembro de 2017

EDIFER

EDIFER, empresa de construção civil com origem na Cabeça das Mós, Sardoal
No século XX, chegou ao topo nacional como   ”player” na construção civil 





Fernando Pires Coelho, nasceu em 1920 na Cabeça das Mós. Era duma família de carpinteiros, e cedo começou a profissão de carpinteiro.
Veio para Lisboa novo, trabalhou na carpintaria de Silvério Lourenço, que era da Presa, Sardoal. Estudou à noite na Escola Industrial Machado de Castro tirando o curso de Construção Civil,  e recordava muito o ter que ir para a bicha do carvão, estamos na época da 2ªguerra mundial a atravessar tempos difíceis.

 Trabalhou para vários patrões, havia pouco trabalho e era constantemente despedido, às vezes só tinha trabalho para uma semana. Até que prometeu a ele mesmo que ninguém mais o despediria, ia criar a empresa dele, decidiu avançar sózinho por volta de 1945.

Concorreu a pequenos trabalhos até que concorreu à remodelação do Quartel Militar de Elvas que correu muito bem. Foi o 1ºtrampolim, continuou a tomar obras e a dar trabalho também aos irmãos e a trazer trabalhadores da Cabeça das Mós e aldeias próximas.

Em 1953, constituiu a Sociedade de Construção Fernando Pires Coelho Lda, mais o sócio (cunhado) Amaro Lobato. Os irmãos como já se tinham afastado criaram também a sua Sociedade Pires Fernandes, e Irmãos Lda (Joaquim, António, Luís e Providence). Destaco dois casos de trabalhadores nestas Sociedades.
1-1960/1 o João Pereira da Cabeça das Mós,entrou na Sociedade do Fernando Pires Coelho, numa obra dos Olivais com Pareceria, conta como eram as condições difíceis nas obras em termos de dormitórios, pouco espaço, pouca higiene. Tem a história curiosa de sendo servente na Construtora Abrantina, apresentou-se como pedreiro nos Olivais em Lisboa, indo comprar ferramenta velha à Feira da Ladra, para parecer que já trabalhava à muito na arte! Claro, puseram-no à prova na feitura dum muro,foi muito duro.
2-1965 o Ti Bejamim mais os filhos João e Adelino da C.Mós, foram trabalhar para a Sociedade Pires Fernandes e Irmãos; vieram de comboio até SªApolónia, Lisboa e foram a pé para uma obra nos Olivais na Qª da Laje. Daqui foram para a obra da Estrela na R.Borges Carneiro, construção dum  prédio. O Eng da obra e dono fazia exigências anormais, estiveram só um mês e uma noite por ordem do patrão abandonaram a obra levando todos os materiais para outra obra a Escola Madre de Deus, terminando assim o contrato.

Na placa;  EDIFER:  Firmeza, Vontade, Perseverança    
                 Fundação 1966


 Neste percurso de família, em que concorriam entre si, decidiram dar um passo maior, e em 14 de Abril de 1966 criaram a:
EDIFER-Construções Pires Coelho & Fernandes, S.A.R.L. Unindo 5 irmãos e o amigo Amaro Lobato de Entrevinhas. Desactivando as ex-empresas.
O primo Carlos Alberto Pires Coelho que começou em 1961 na Sociedade do Fernando Pires Coelho, fez o depósito de constituição da EDIFER na C.G.D. em 1966, ficando a partir desta data como tesoreiro da Edifer e até 2006.
Em 1967 a Edifer inicia a actividade com a construção do prédio ao lado do Café Califa em Benfica, Lisboa.



                                  

1976-Aquisição de mais terrenos anexos às instalações da Venda Nova, o Fernando Pires Coelho viu a oportunidade e avisou os irmãos da vontade de comprar, e assim aconteceu, adquiriu:
-terreno nas costas e contiguo da Edifer que era da C.M.Amadora para oficinas e cresche.
-terreno oposto dos cabos Celcat, onde se instalou os dormitórios do pessoal deslocado.
-terreno oposto da PT, onde se instalou grandes oficinas.
Fez uma almoçarada com o pessoal e os irmãos não compareceram, passado pouco tempo todos lhe deram razão da visão para oportunidade de crescimento sólido da Edifer. 


                       

 Construções que foram marcos de crescimento da empresa
-1966 a1969 Palácio da Justiça de Lisboa,  deu-se o grande impulso na Edifer com esta obra.



-1988 com o projeto e a construção do Banco Lioyds, veio o prémio Valmor desse ano.


                       
-prédio da PT para instalação da central das Laranjeiras.
-museu de Etnologia, em Belém.
Obras que revelam a capacidade de resposta para construções com fins muitos diferentes, não se cingindo à habitação. Esta foi concerteza a 1º grande aposta.
Criando formação interna.
Criando condições e conseguindo a certificação ISO9001 e outras.
A Edifer chegou a ter 9081 trabalhadores, no auge da construçao civil em Portugal.

Ràpidamente os trabalhadores da EDIFER, na sua maioria de aldeias do Sardoal, como a Cabeça das Mós, Alcaravela, Serra; organizaram-se, contrataram uma camioneta que os levava à 6ªfeira á noite e os trazia Domingo à noite para Lisboa.


Organização tipo nas obras EDIFER
A empresa tinha um grupo de Arquitectos para desenhar os projectos e também contratava fora, chegou a contratar o Siza Vieira.
Em cada obra havia um só encarregado com um alvorado e um seguidor, lembro aqui alguns encarregados (3 irmãos da Cabeça das Mós)bons e muito respeitados a dirigir obras e homens:
            Ti Jerónimo Custódio ou “Mata Pretos”
            José Custódio
            Manuel Custódio
Depois havia um engenheiro que orientava geralmente mais do que uma obra e até três que visitava diáriamente. O engenheiro Gabriel Santos (vindo da Casa Pia) foi um dos primeiros.
Escritórios, oficinas,centro de formação, refeitório, cresche, dormitório e tribunal de justiça, na Rua das Fontainhas, Venda Nova. O 1ºmotorista de serviço foi o Ti Romeu na sede.
Vou destacar o tribunal, criado pelo Joaquim Bruno Pires Coelho para resolver sempre que possivel os problemas dentro da empresa, como acidentes de trabalho e problemas laborais com o pessoal.
Na Edifer estava o Sr Barata, que era duma companhia de seguros para ajudar a resolver os problemas de acidentes de trabalho.
Nas decisões do tribunal estava sempre o Joaquim Bruno Pires Coelho.
Na Páscoa, em Abril a EDIFER dava 1 mês de ordenado a todos os operários, com informação dos lucros e dos prejuízos e em que obra, por ordem do Joaquim P.Coelho.

Vencimento era mensal, o apontador ia a cada obra e levava os envelopes com o dinheiro de cada trabalhador.

Acordos entre empresas, para responder a grandes obras:
-ACE -> associação complementar de empresas por projecto, tem autonomia financeira, de recursos humanos e decisória em todos os momentos da obra.
-Consórcio -> contrato particular, são feitos relatórios mensais para as empresas e elas é que tomam as decisões, é um sistem mais difícil de caminhar, está sempre dependente.

Depois da crise mundial de 2009 a Edifer que já estava com dificuldades, foi-se agravando até ser vendida.

2016-a EDIFER foi adquirida pela “ELEVO” em conjunto com mais 3 empresas. Neste momento 16/11/2016 as instalações da Edifer na Venda Nova, rua das Fontainhas começaram a ser demolidas e o espaço vai ser utilizado na construção de um condominio fechado de luxo.




Histórias na Edifer
1-Episódio marcante na vida do Daniel Semedo; que fazia a manutenção de máquinas.
Estava a trabalhar em 1976 num prédio das Pedralvas, Benfica. Recebeu uma ordem vinda do Joaquim Pires Coelho da admistração para ir trabalhar para a obra do Palácio da Justiça, ele informou o encarregado “Mata Pretos” e foi levado pelo Ti Romeu para a dita obra.
Ficou a trabalhar no turno da noite, o Daniel conta que estavam a fazer os caboucos do Palácio da Justiça e andavam lá cerca de 200 marteleiros a abrir os caboucos em rocha. Ele andava com 2 bidons de 12l de gasóleo e funil a encher os depósitos dos compressores, reparava com braçadeiras os furos nas mangueiras que levavam a pressão, substituia correias e resolvia outros problemas. O encarregado desta obra era o Sr Quinas.
Uma noite depois de jantar apareceu lá o Joaquim Pires Coelho, equipou-se com roupa de segurança e pediu ao Daniel para irem ao fundo da obra aos caboucos. Ouviam-se os martelos mas a luz estava apagada. Disse ao Daniel para ligar o gerador, e logo a iluminação mostrou os martelos a trabalhar sem ninguém (estavam seguros). Saíram do fundo e o Joaquim perguntou ao Daniel pelo Sr Quinas ao que este respondeu que tinha ido  para o escritório e jantar, despediu-se e passado dias chamou o Daniel à administração à Venda Nova. Quando ali chegou os administradores estavam reunidos, a dada altura o Joaquim virou-se para ele e disse:
 você mentiu para mim, essa cartilha já a tinha deitado fora”, e acrescentou “tu mentis-me, nunca mais o faças, diz-me só a verdade, regista isso e fica com isso na tua memória”.
É claro que o Daniel sabia que o sr Quinas tinha ido jantar e, só costumava aparecer de manhã.
Depois disto, foi para lá o encarregado “Mata Pretos” e o Sr Quinas veio para o escritório, e ficou à espera de nova obra.

2-Cais das Colunas, na Pç Comercio, foi desmontado em 1996 aquando das obras do metro, pela EDIFER. Os 500blocos de pedra foram guardados nas instalações da Edifer na VendaNova e posteriormente a CMLx guardo-os, foi reinstalado 11anos depois tendo como dificuldade principal lidar com as marés.



3- Histórias de Vidas e ciclos de vivências,  ~1970 a 2000, Contratadores de camionetas mais ligados à Edifer:
            -Piçarreira e Florêncio de Alcaravela
            -João Matos de Entre Serras
Lembro-me do meu pai João Pereira, quando queria ir à C.Mós combinar a camioneta e íamos apanhá-la na 2ªcircular na Ponte da Luz às 19H de 6ª e regressávamos às 20H de Domingo da C.Mós.
            Era cómodo ir à aldeia, levar e trazer coisas, e no regresso de Domingo à noite era comum  a alegria e as “bebedeiras”.
Motorista José Machado- mora na Tesoureira, a Cabeço de Montachique; trabalhou como motorista na empresa de camionagem da Póvoa da Galega até  ~ 2005.
Práticamente durante 30 anos fazia muitos extras de fim de semana; a camioneta era alugada ao fim de semana, ia 6ª à noite e regressava no Domingo à noite, para levar o pessoal à terra, que trabalhava em Lisboa.
Terras de Sardoal, Vila de Rei , Tomar. Depois de deixar o pessoal ia a Tomar apanhar o comboio para Lx e no Domingo voltava para pegar na camioneta e apanhar o pessoal das terras e trazer para Lisboa, já pela noite dentro. Na época das festas em especial no Verão, era convidado a ficar numa das aldeias e fazer em média mais 2 serviços:
-no Sábado à noite levar o pessoal às festas
- e no Domingo de manhã levar as velhas à missa das 9H;
Ganhando o motorista, o contratador e a firma também um extra para gasóleo.
Neste ciclo de vivências, chegou-se a alugar camionetas a 3 firmas.
Os velhos reformaram-se, os filhos estudaram e ficaram a morar por Lisboa e arredores. Os que vão à terra já vão nos seus carros, de modo que acabou este tipo de transporte.

4- História do dinamismo empresarial da Edifer.
A Edifer de Albertino António Bernardo por Celso Filipe  25 Março 2012(Jornal Negócios)
Há quarenta anos, ia para a porta da Edifer, na Venda Nova, à espera do toque da sirene que anunciava a pausa para o almoço. Às vezes para entregar ao meu tio a marmita com a refeição, outras para lhe fazer companhia até casa.

O meu tio, Albertino António Bernardo, comprava madeira para a Edifer, fiando-se no olhar clínico de quem não tinha feito outra coisa na vida. Ele tinha orgulho na empresa do Coelho e do Fernandes, que por essa altura estava a singrar. E eu tinha orgulho nele, porque trabalhava numa empresa com nome e como sobrinho ainda tive direito, em uma ou duas ocasiões, a uma prenda de Natal. De vez em quando, também, visitava o grande armazém, espantado com a quantidade e a diversidade de madeiras que se acumulavam em pilhas gigantes. O meu tio era feliz na empresa e isso fazia-me feliz a mim. Quando se reformou, a Edifer fez uma festa bonita e ofereceu-lhe uma estátua evocativa da data, que ainda hoje guardo em casa. ......(inicio do artigo).


  
   


                                                                                          


Fontes:
            Livro dos 25anos da Edifer-1966 a 1991
            Carlos Alberto Pires Coelho
            Adelino Pimenta Lopes
            João Pimenta Lopes
Adelino Falcão
            José Pimenta Lopes
            João Pereira
            Daniel Semedo
            Internet, Celso Filipe
            Conferência no Palácio Bon Sejour-Lx, DªAlexandra Carvalho Antunes "Cais de Pedra",2017             José Machado, motorista dos fins de semana.

sábado, 30 de setembro de 2017

Ferreiro de Carnide



          Eugénio Pinto Vicente e Rogério
          Na R.Norte nº2, ~de 1930 a 1980
            1-Caracóis em janelas e portas, como fazer
            2-Portões como se assentavam antigamente

1-Caracóis com barra de ferro
a) a quente, à forja e com moldes
Difícil é o começo do caracol, para ficar com o redondo perfeito.  A ponta a quente é achatada tipo faca e apertada; depois entra no molde.
Ficam perfeitos, demoram mais tempo e logo são mais “caros”, era a técnica antiga e usada pelo Eugénio Pinto Vicente (pai do Rogério) até aos anos1970.

    Grade de caracóis-1952, porta do Asilo das velhinhas, R.Norte nº45, Carnide




b)a frio, inovação do filho Rogério Vicente nos anos 1970.
A barra de ferro é trabalhada manualmente a frio, faz-se mais caracóis em menos tempo, não são é tão perfeitos.





2-Portão de ferro , como se assentava antigamente.
                      R.Norte nº24
 
a) Nas pedras do portal, são abertos os buracos com escoporo e ponteiro, tipo ninhos mais largos no interior do que na abertura onde entra a ferragem que segura o portão.

b) Assenta-se o portão com calços e nivela-se, com as unhas nos buracos. Por baixo de cada buraco faz-se uma concha em barro para segurar o chumbo liquido.

c) Com uma colher de ferro e terminação em bico na concha, enche-se com bocados de chumbo, depois vai ao lume a uma fogueira até ficar liquido. Depois mete-se em cada buraco das dobradiças, e na solidificação bate-se com um escoporo para entrar e encher bem o buraco.

            Portão feito e assente ~1951 na R.Estrada da Luz nº176, Lar das Doroteias
 
          
                                         Largo da Mestra, antiga escola republicana de Carnide

Esta fixação é duradoira, vê-se grandes portas e portões com centenas de anos ainda a funcionar com esta fixação.


Fontes:
            Rogério Pinto Vicente
            Convento de Carnide, antigo “Asilo das Velhinhas”
            Escola Republicana de Carnide
            Lar das Doroteias (Irmãs do Bom Pastor)




                                                                                  

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Quinta da Arcêz



            Quinta da Arcêz, Cabeça das Mós, Sardoal

 
A Casa Senhorial, actual residência de Carlos Neves e família
           
O pai, Dr. João Germano Neves da Silva, médico e chefe de Patologia no Hospital de Oncologia de Palhavã (óbito em 1977). Deu um grande impulso à quinta, com a construção da levada de água de ~1200m comprimento (1945). Esta era utilizada para regas, azenha, consumo da casa, animais, etc. Criando também uma feitoria com trabalhadores agrícolas para auto sustento da quinta.

 

A mãe, Maria Luísa Leal Matos e Silva, herdou a Quinta da Arcêz. 
 
           

Influência positiva desta família no Concelho Sardoal
1-Avô materno de Carlos Neves, pagou a 1ªFilarmónica e construíu o 1ºTeatro do Sardoal.
Esta família tem também origens em Vila de Rei.
2- A Ponte da Arcêz na EN358, foi construída a pedido do pai Dr João Germano Neves da Silva ao secretário das obras públicas nos anos 50, construída ~entre 1960 e 63, onde trabalhou o Bejamim Lopes, e inaugurada em 1966. Antes era uma pequena ponte de madeira,pedonal, junto à água. As carroças atravessavam o leito da ribeira.
A actual ponte, já era pedida hà muito, pelas populações locais; para facilitar as deslocações a Abrantes e ao Alentejo.

 

Localização da Quinta da Arcêz, desde a barragem até à zona da ponte na EN358
 
Nota: verifico um erro no “googlemaps”, a Capela está assinalada onde era o curral das ovelhas na Quinta ( mais tarde usado como café), fica junto à barragem. Assinalei a vermelho.
A ponte da Arcêz inaugurada em 1966 fica na EN358, próximo da casa Senhorial ,e das casas de apoio, assim como de todo o vale que era cultivado ( lado direito da imagem). Verifica-se no local, que a ribeira está invadida com árvores. Predominância de acácias.

A Quinta da Arcêz foi no séc XX ~ anos 1940 até início de 1980 uma das principais entidades empregadoras da aldeia Cabeça das Mós. Todo o vale da ribeira da Arcêz desde a Lapa até à ponte que dá para as Mouriscas era cultivada ( margem direita), ~1km. Sempre com grandes milherais, aveia e trigo.
 
A arca de 125 Kgs ~ 60 alqueires. Chegavam a encher  7 arcas destas com os cereais. Em cima da arca pode ver-se o ferro com o  logotipo da quinta um “ A” que se vê marcado na arca e com que se marcava o gado também.

 
Cavalo em pasto livre da quinta


Quinta composta por:
-capela da Lapa, onde o Bispo da Baía ia celebrar missa todos os dias, percorria a pé todo o vale desde a Casa Senhorial até à capela, séc XVII.
- Casa Senhorial
-Fontanário, existindo outro com mina no exterior onde o Bispo da Baía bebia.
-Azenha de rodízios com 2 pares de mós “Francesas”, mais rijas para moer o cereal. Era uma de milho e outra de trigo. O Serafim da azenha da Lapa é que picava as mós. Faziam uma farinha muito boa e fina.
-Lagar de Vara de azeitona puchado por muares e nos anos 60 o lagar novo a motor de gasóleo.
-estábulo
-adega
-armazém de cereais
-casa da criadagem e que foi depois armazém de batata no 1º e de fruta no r/c. Hoje com o dono Carlos Neves foi adaptada para Turismo Rural-considero simplesmente encantadora com a ribeira ao lado. Os hóspedes são acordados aos primeiros raios de sol, por uma orquestra de pássaros dos choupos da ribeira !

 


Sinos, a quinta tem dois em locais diferentes, onde um dava o toque de pegar ao serviço e outro o de despegar. No verão o almoço era de 2 horas, permitindo dormir a sesta.
Os sinos tinham que se ouvir no ponto mais longínquo, que é ao açude da lapa.

Levada, vai da Lapa onde está a comporta geral até à azenha e pelo caminho a levada  tem várias comportas para a rega. Foi construída  cerca de 1945, era o Carlos Neves miúdo e lembra-se dos pedreiros na sua construção.



 Trabalhadores fixos anualmente, eram cerca de 10, com horário de sol a sol, a sua jorna nos anos 1960 era de 22$50/dia, pagamento semanal ao Domingo depois da missa no Largo da Cabeça das Mós. Havia semanas que alguns só trabalhavam 2 a 3 dias.
José Maria
Manuel Esteves
Ramiro Moleirinho
Sebastião Maranga
Ti Paulina Esteves
Ti Maria Andresa
Pastor-SªVitória, com 90 ovelhas
O feitor Luís Filipe Gaspar Bernardino nascido em Vila de Rei em 1935. Entrou ao serviço da Quinta da Arcêz em 1962, e foi também o moleiro e mestre do lagar da quinta, fazia também o vinho e a aguardente para consumo da casa.
A esposa do feitor Ludova da Silva Barreira, tratava da criação (1-mula, porcos, marrãs criadeiras, 3-vacas, perus, galinhas e coelhos) e fazia ainda o pão para a quinta.
Antes do feitor Filipe foi o feitor Canhoto que era de Vila de Rei(... a 1962).

 
 Carlos Neves (78anos) com José Lopes em 7/4/2017 juntos ao velho alambique de barro

Trabalhos executados, roçar mato, cavar, regar, engorda de vitelos (compravam em pequenos e vendiam-nos com cerca de 300Kg), e pastoreio de ovelhas. Havendo ainda os ciclos da azeitona e dos cereais.

Ciclo do azeite, a quinta tinha outras propriedades só de olival tais como:
-do cemitério do Sardoal até à EN2 e passando pelo eucalipto histórico com 600 pés de oliveira, onde perto havia uma casa destinada ao rancho de mulheres que vinham de Alcaravela (Pisão) para a apanha de azeitona, a que se juntavam os homens fixos da Arcêz.
-actual zona industrial do Sardoal, era olival com cerca de 300 pés.
-Tapada Nova e margem esquerda da ribeira até ao Casalinho na Cabeça das Mós.
Houve um lagar de vara até meados de 1960, e depois a quinta instalou um lagar novo com motor a gásoleo. O mestre lagareiro era o Manuel Ferreiro e depois passou a ser o feitor Filipe Bernardino.

O produto da quinta destinava-se a toda a família Neves e vendiam para fora:
-queijos frescos (chegou-se a fazer 90/dia) e secos, o leite sobrante era para a casa.
-vitelos
-borregos
-porcos para criar
-leitões

Produções excecionais de anos bons:
-200 alqueires de milho
-60 alqueires de trigo
-125 alqueires de aveia

A lavoura nos anos 1960 ainda era com arado e uma parelha de mulas e mais tarde, passou a uma mula mas havia já um motocultivador, sendo o 1º na Cabeça das Mós.

1971-O Dr João Germano Neves da Silva decide alterar o funcionamento da Quinta da Arcêz a contento, alugando a Quinta por 24 000$00/ano em géneros ao feitor Filipe Bernardino.
Depois do falecimento do Dr Germano Neves, ainda ficou 5 anos até 1980 com o filho Carlos Neves. 

 
Filipe Bernardino, 18anos feitor na Quinta, de 1962 a 1980




Um pouco de história da Quinta da Arcêz

 
Capela da Lapa-existe uma Benção Papal  do ano 1659.

            O Bispo da Baía Dom Gaspar Barata Mendonça, celebrava aqui missa. Aquando da nomeação pela Bula “Divina Disponente Clementina” em16/11/1676, para a Baía. Uma doença grave acometeu-o,  e durante os 10 anos seguintes passa longos períodos de vilegiatura e convalescência na zona de Arcêz e Lapa, pertencente à sua família, onde em contacto pleno com a natureza dessa paisagem ídilica e, ao mesmo tempo, sedativa e repousante, procurava aurir a saúde perdida. Faleceu a 11/12/1686.
O vale para o lado de Entre Serras, chama-se Vale do Arcebispo, onde existe uma fonte com mina, e em que muitas vezes era só este o alimento do Bispo.

Já no século XX a quinta era pertença de DªMaria Eliza e DªNatividade de Vila de Rei, como não tiveram filhos deixaram-na à afilhada Maria Luísa Leal Matos e Silva que veio a casar com o Dr João Germano Neves da Silva.
A quinta actualmente é do filho Carlos Neves.


                                                                                             


Fontes:          
            Carlos Neves, Quinta da Arcêz
            O último feitor(encarregado), Filipe Gaspar Bernardino de 1962 a 1980, 18anos.
            José Pimenta Lopes
            Livro dos 75 anos do IPO, onde trabalhou o Dr João Germano Neves da Silva
            Beatriz Lopes, lembra-se de ir levar o almoço ao pai Bejamim Lopes à ponte
            www.sardoalmemória.net, D.Gaspar Barata de Mendonça



                                                                                             












segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Quinta de SºAntónio, Cabeça das Mós, Sardoal



                       
Memórias vivênciadas por António José Lopes Alpalhão

 
         
Maio e Junho fazia-se a ceifa do trigo por um rancho. Em finais de Junho, as mulheres traziam molhos de trigo para a eira, num carro de parelha; estendiam-nos na eira para perder a humidade.
Depois um homem no meio da eira, conduzia duas mulas com cara tapada que andavam de volta e com as patas descascavam o trigo e partiam a palha.
            -retirava-se a palha e guardava-se no palheiro.
            -fazia-se a limpeza do trigo por padejamento, e era recolhido para arcas de madeira grandes.
Havia na ribeira da Arcêz, no Pisão de Bruxo duas azenhas e uma nos Pintos/Escorrega.
O moleiro enfarinhado do Pisão de Bruxo, passava na Quinta duas vezes por semana com o burro. Trazia o cereal moido, e levava mais 2 a 3 alqueires de trigo e ou milho.
            A azenha trabalhava práticamente o ano inteiro, havia muita água que era controlada nas represas e açúdes. As levadas das azenhas também tinham ao longo do percurso comportas para regar hortas.
            Criava-se trigo, milho e pouco centeio e cevada.
            Também se fazia farinha de fava. As favas primeiro eram torradas e depois iam à azenha. Esta farinha era usada ao pequeno almoço com papas de leite.
           
           

A azenha trabalhava até finais de Junho e depois só recomeçava com as primeiras chuvas em Outubro.

O forno da quinta, trabalhava, de 15 em 15 dias, cozendo a quantidade de pão necessário para a casa incluíndo para alguns trabalhadores fixos.


                       
Julho e Agosto, tempo das hortas, dos frescos tais como: alface, tomate, pimento e feijão verde.
No mês de Agosto faziam-se as descamisadas na eira, depois do sol posto até à meia noite a uma hora da madrugada, acompanhadas de um garrafão de vinho que ia passando de pessoa para pessoa; as mulheres bebiam pouco, os homens é que bebiam muito.

Finais de Outubro, vinham os ranchos de fora da aldeia, durante 1 a 1,5 meses para a apanha da azeitona que era moída no lagar de família do Manuel Alpalhão. No final quando acabava a apanha da azeitona, fazia-se uma ceia chamada das filhoses, e vinha um indíviduo com concertina para se fazer um bailarico.

Nos finais da década de 1950, já em 1959, vieram as debulhadoras, que se instalaram na Rua das Casas Crespas, terreno atrás da escola primária. Neste 1ºano só debulhavam, a palha saía partida, no ano seguinte a máquina já fazia também o enfardamento da palha, acabando assim com os animais na debulha.

A quinta tinha um rebanho de cabras e ovelhas, cerca de 50, guardadas pelo pastor Hermínio. Fazia-se o queijo fresco e seco.
Tinha uma vacaria com vacas que davam leite para queijos e para venda direta ao público. Era pelas 7H da manhã a 1ª mugidela e às 19H a 2ªmugidela. Depois acabaram as ovelhas e cabras, ficaram só as vacas.
 
            Manjedoura das vacas

  

Matança do porco, era anual, em Dezembro. Matava-se 1 a 2 porcos para abastecimento da casa.
 
1947-da esquerda para a direita, diz o António José Lopes Alpalhão: Ti Vergílio-carroceiro da casa, António Lopes Alpalhão, Irene, António Antunes Leitão-avô materno, Maria-prima, tio joaquim formado irmão da Irene, tio Manuel Lopes Alpalhão, José Lopes Alpalhão-avô paterno, primo da Irene, tia Maria do Carmo.

Foram professoras primárias na escola da Cabeça das Mós as duas irmãs a partir da década de 1950, a Irene e a Maria do Carmo que estavam casadas com os dois irmãos.
            A Irene era regente escolar e à posterior tirou o curso de professora primária.
A tia Maria do Carmo veio já como professora.
O tio avô padre Manuel Lopes Alpalhão, construíu a 1ªescola na Cabeça das Mós e a casa da professora, actualmente é do Milheriço. O mesmo tio avô padre construíu a 1ªcasa amarela de SºAntónio em 1933 e depois foi reconstruida em 1953 pelos filhos.
            O avô paterno tinha uma mercearia (onde tinha tudo desde bacalhau a petróleo) em Medelim, Idanha-a-Nova e queria que o filho António fosse para lá e assim foi durante 3 anos 1947 a 1950; ano em que o pai veio para a Cabeça das Mós para a casa da quinta  de SºAntónio.

A casa tem uma adega onde se fazia vinho e o excesso era vendido. Havia ainda o fabrico de aguardente, durante todo o ano, de:
            -passa de figo
            -e de engarço, esta não era para venda.
Quem trabalhava no alambique, era o Inácio de Entre Serras e depois e por muitos anos foi o Manuel Antunes “Aguardente”, foto abaixo.


A casa tinha uma torre com um dinamo eólico movido pelo vento, que carregava uma bateria de 12v, daqui ligava às lâmpadas de 12v para iluminação da casa a fio de cobre nú e ligava-se muito pouco devido ao consumo. Os 12v eram práticamente só para o rádio a válvulas, para ouvir as notícias.
Isto funcionou desde ~1950 até chegar a electricidade em ~1970.

Torre onde funcionou o dinamo eólico

 A quinta começou com o pai António Lopes Alpalhão e o tio Manuel Lopes Alpalhão no início da década de 1950, já com o princípio da sustentabilidade, sendo autosuficiente e vendendo o excesso, tendo venda diária de leite, queijos e aguardente. Quando hoje se ouve falar em sustentabilidade como uma inovação!....
A quinta também tem um pomar de citrinos, nomeadamente: Laranjas, Tangerinas e Limões. Onde tinha um tipo de laranjas da Baia que estava sempre vendida ao Hotel de Turismo de Abrantes.
A sustentabilidade, sempre foi e é mais do que nunca necessária porque os recursos do planeta e as alterações climatéricas assim o obrigam para sobrevivência das gerações futuras.!

A quinta tinha 6 trabalhadores fixos anualmente, e os outros eram sazonais.
-o carroceiro, transportava tudo e fazia as lavouras.
-um pastor
-um vaqueiro
-duas criadas para o serviço da casa
-o destilador de aguardente, que só parava cerca de 2 meses quando acabava o figo


Padre Manuel Lopes Alpalhão, tio avô do António José Lopes Alpalhão, foi ele que construíu a 1ªcasa em 1933 e a capela em 1898.
Nasceu no lugar de Cabeça das Mós, freguesia de São Tiago e São Mateus do Sardoal, em 28 de Fevereiro de 1865, filho de José  Lopes Alpalhão e de Mariana Joaquina ou Mariana Maria.

Por decreto de 19 de Julho desse mesmo ano é apresentado na Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena da Aldeia do Mato onde é colado a 20 de Dezembro, tomando posse a 2 de Janeiro de 1901, sendo, a partir de 1921, por duas vezes, encarregado, acumulando, da freguesia de São Miguel de Martinchel.

O último despacho do seu “curriculum” tem a data de 22 de Outubro de 1931. Faleceu a 13 de Março de 1937, na sua aldeia natal, na situação de dispensado do serviço por idade e doença.


                               Capela de SºAntónio datada de 1898, frente ao portão da quinta




Fontes:
-António José Lopes Alpalhão
-José Pimenta Lopes
-site: www.sardoalmemoria.net , figuras ilustres de Sardoal
-Adelino Pimenta Lopes

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Poesia dos Santos Poupulares



                                    Modinha cantada pela Cândida Paixão

                                    Convento de Carnide, R.Norte nº45

Refrão
Viva o Santo António
Viva o São João
Por fim vem São Pedro
para a reinação


Dos Santos mais Populares
É São Pedro o mais sisudo
Faz milagres aos milhares
E tem chaves p'ra abrir tudo

Eu pedi a Santo António
Um rapazinho solteiro
Mas que não seja o demónio
E que tenha bom dinheiro

    Jardim do Convento


Fonte:
            A filha Fátima