Taberna da
Ti Maria Torrada
Barca do Pego-EN nº3, Alferrarede, Abrantes.
O pai trabalhava nos fornos de cal do Bom Sucesso como
encarregado e decidiu fazer uma taberna, para a filha (quando esta tinha 7anos),
para esta vir a ter melhor vida, em
1943. Ficou a ”taberna do torrado”
e fixaram uma placa de madeira no exterior a dizer:
“vinhos e
petiscos com elas” (azeitonas)
Passado algum tempo passaram lá, os fiscais da C.M. de
Abrantes, que queriam o pagamento por ter a tábua no exterior, e logo, a tábua
foi retirada.
Quando a Maria Torrada começou a ir à Escola Primária, a mãe
recomendava sempre para não se demorar, para vir ajudar na taberna.
O nome Torrada, veio do pai; este andava com uma
camisa rota a trabalhar nos fornos de cal do Bom Sucesso, as zonas dos rasgões
ficaram queimadas do sol. Tinha ele 14anos.
No início quem ficou na taberna foi a mãe Jacinta, e a filha
Maria Torrada ajudava.
A Maria recorda que nesse tempo na taberna só se vendia:
-vinho tinto e branco
-aguardente e abafado
-tabaco de onça, Duque o mais forte
e mais quantidade-velhotes, superior e Francês.
-tabaco definitivos, mata-ratos,
Paris e 3 vintes mais caro.
Notas
1-tinha uma licença
especial para vender tabaco, que comprava no armazém do
Sr Lopes em Abrantes, agora é o Pingo Mel.
2-o vinho e as
outras bebidas, ia abastecer-se ao armazém do Sr Vitória em Alferrarede, casa
verde ao lado do cinema.
Frigorifico,
não havia.Tinham um pequeno tanque com areia, sem fundo, onde metiam água todos
os dias, da mina ou dum poço, por ser mais fresca que a água do Tejo. As
cervejas enterravam-se na areia com o gargalo para cima e ficavam mais frescas.
Era tapado com madeira. Com a infiltração da água na terra não cheirava mal.
Água, para
as lavagens, em especial dos copos, ia todos os dias ao Tejo com o burro
busca-la, uma ou 2 vezes. Para beber ia à fonte Omnia da Quinta da
Anadia.
A 1ªtaberna
era pequena e ficava ao lado dum depósito de cal, onde fica a taberna atual com
residência. Funcionou entre 1943 e 1956.
A 2ªtaberna
foi na casa do rancho na Barca do Pego, entre 1956 e 1961.
A taberna actual é
a 3ª, começou em 1961 aquando da construção da casa de 1ºandar. Ficando
a habitação em cima no 1º e a taberna em baixo no r/c om um espaço reservado de
cozinha para grupos assarem o petisco.
Algumas histórias das
milhentas, que a Maria Torrada vai contando, é como um rio em que a água
límpida ainda corre; assim conta com palavras simples e claras as vivências e
as amizades criadas nesta taberna que se encontra cheia de afectos.
Sem esquecer os 80 anos quase feitos desta menina com uma memória fantástica.
-Rezineiros, anos
1940, 50 e 60, os chefes de vários grupos que vinham das aldeias próximas como
Alcaravela, Mação , Evendos, etc. Iam levar os bidons de resina a Alferrarede à
SOER e ao Sr Lagoa. O local de paragem
para comer a bucha, era na taberna da Maria Torrada.
Traziam um chouriço num pacote de papel pardo e ali
conviviam a comer e a beber vinho. A Maria era pequena, muitas vezes comia com
eles e ouvia as suas histórias.
-Estudantes, anos
1950, 60, 70, vinham para o Colégio Infante de Sagres do Professor Santana Maia
que tinha internato e ficava nas Mouriscas. Saíam no comboio em Alferrarede e
depois iam de carro para as Mouriscas, parando na taberna da Maria Torrada.
Depois do 25 de Abril de 1974, o Santana Maia vende o
Colégio ao Estado.
-Ranchos para a
azeitona, vinham do Carvoeiro, S.José das Matas e Alcaravela para a apanha
da azeitona nos olivais da Quinta da Anadia; tinham trabalho até ao Natal.
Paravam na taberna da Maria Torrada.
-Os melhores clientes
eram os homens dos Fornos de Cal que funcionaram até ao início da década de
1960, e os clientes da Cal que vinham de Barco e com carros de Bois de longe, e
os burros com alforges.
-Grupo de amigos e
cantadores, que animaram muitos fins de tarde o convívio da taberna.
Imagine-se as anedotas que se contaram na taberna e contam.
Acrescento um pequeno episódio: um indíviduo que frequentava
muito a taberna e um dia passa com a esposa de carro, este pára o carro para a
esposa ver quem era a Maria Torrada de que falava em casa, “qual não foi o espanto”, era uma
velha taberneira e amiga que ajuda o convívio de fim de tarde depois dum dia de
trabalho!!!
Fontes:
Maria Torrada, o meu bem haja
pela disponibilidade e simpatia.
Fotografias do tabaco e abafado partilha da
net.