Vida já
longa e dura de José Fernandes Teixeira
Nasceu em 14/7/1926 em Vila Seca de Poiares, Régua, Vila
Real. E fez a 4ªclasse em 1937,
poesia à professora primária
Colegas
vamos para a escola
Que temos que aprender
bem
Que a senhora professora
É a nossa segunda mãe
No verão de 1948 com 22 anos fugiu de casa, depois de
saber que havia trabalho de obras no Bºdo Caramão da Ajuda em Lisboa. Convem lembrar que tinha acabado a 2ªGuerra
Mundial e havia falta de tudo e de trabalho, eram tempos miseráveis.
O meu
sonho
É ver Lisboa
Vêr o mar
Que
nunca vi
Foi à estação do comboio da Régua e pediu um bilhete para
SªApolónia e não lho queriam vender, mas lá foi.
Chegado a Lisboa foi para a Ajuda, Bº do Caramão, onde
arranjou trabalho,daqui ercreveu aos pais. E para dormir era debaixo de pontes
e nos bancos dos jardins; nesse tempo as obras não tinham barracas nem
contentores para dormitório dos empregados. Uma noite foi corrido pela polícia
da rusga, dum banco de jardim onde estava a dormir.
poesia do desalento
Já pensei
Que a minha vida
Estava a chegar ao fim
Arranjei uns pais adoptivos
Que me deram a mão
Eram boa gente
Tinham bom coração
Andou pelas obras cerca de 5 anos, no Inverno ia para a “terra”-Vila Seca de Poiares. Depois do Bº do
Caramão da Ajuda, andou a desmanchar a piscina do palácio dum Conde na R.Pinto
Ferreira e em frente na Rua do nº19-3º grita o Sr Gomes para falar com o
encarregado. No fim desse dia sábado, o
encarregado perguntou a todos quem é que queria ir trabalhar no domingo a
plantar árvores no jardim do prédio nº19, e só o José Teixeira aceitou e
combinou depois com o Sr Gomes o ordenado, ele que ganhava 20$00/dia ficou a
ganhar 40$00/dia nesse trabalho extra e depois como jardineiro do prédio.
O Sr Gomes, que era bancário no BNU na R.Boavista, gostou do
trabalho do jardineiro e um dia propos arranjar-lhe trabalho, apresentando 3
propostas:
1-Ir para o ultramar, não aceitou.
2-Ir para guarda-freire, condutor de
eléctricos na Carris, não dava, era preciso ter 1,65m de altura. Ou ir para as
oficinas, era estar fechado, não quiz.
3-Ir para “Almeida” * na CMLisboa, ao
que aceitou de seguida.
Posto de Limpeza da Boa-Hora
(DHU-DLU-Z1)
Onde foi jardineiro e arranjou caminho p/CML
Conseguiu trabalho na CMLisboa, como cantoneiro na Ajuda,
Largo da Boa Hora em 13/4/1953 onde
ficou até 1961, aqui tinham camaratas para dormir. Aqui concorreu a
Capataz, de 60 ficaram 23, sendo ele um deles, com vantagem de ter a 4ªclasse.
Casa de habitação,
como já tinha um filho de 4 meses pensou em alugar um quarto e assim aconteceu
por 180$00/mês, nas Salésias ao campo do Belenenses; mandou vir a esposa com o
filho. Passado tempo soube pelo barbeiro da CML na Ajuda que havia uma barraca
nas terras do Palácio da Ajuda e aproveituu-a por 50$00/mês.
Em 1961 soube do início da construção do
BºPadre Cruz, escreveu ao Presidente da CML- General França Borges a pedir uma
casa, queixando-se que vivia numa barraca na Ajuda com a familia e sem
condições. Recebeu lá um polícia a confirmar e em 6/11/1961 recebeu a chave da
casa na R.Rio Lena nº5 onde mora à 57anos, “outros tempos”.
1970-O poeta José Fernandes
Teixeira e a esposa Filomena Barbosa
Depois tentou ir para perto de casa, onde houvesse eléctrico,
ainda não havia autocarros. Ainda em 1961 foi para a zona do Arco Cego e depois
para Sete Rios junto ao Jardim Zoológico.
Finalmente ainda em 1961-foi
para Carnide, quando houve uma vaga, onde concorreu e ficou como Capataz. As instalações eram debaixo do
coreto e depois em ~1966 ao lado da escadaria na estrada da Correa.
Poesia que dizia aos colegas da limpeza
Enquanto
houver
Vassoura e pá
Esta vida não está má
1974-a pedido da
chefia foi para Benfica, instalações no Moinho do Jardim Silva Porto. Aqui
devido ao bom desempenho e por pedido dum morador recebeu um louvor de OURO em
4/12/1989.
Voltou a concorrer em 1980, de 60 ficaram 28 e chegou a encarregado, onde se manteve até 1989,
fazendo 36anos de serviço e pediu a aposentação.
Em jeito de terminar, pedi ao poeta José Teixeira o sêlo, pensou no começo da vida e como é
aos 91anos:
Noutros
tempos meu netinho
Era o melhor dos meninos
Não faziam ruindades
Eram bons os
pequeninos
Iam para a escola
contentes
Vinham da escola a
sorrir
Não gritavam pelas
ruas
E não sabiam mentir
Cá está o pobre
velhinho
A cantar neste
cantinho
De olhos pregados no
chão
Anda em busca de
aventura
Como quem anda à
procura
Nesta perdida ilusão
* Nota: “Almeida”= cantoneiro ou varredor de rua,
antes do Presidente França Borges era outro que era de Almeida, e nessa tempo, anos
50, davam esse nome a quem varria as ruas devido à origem do presidente da CML.
Fontes:
José
Fernandes Teixeira, Bº Padre Cruz
Rogério
Vicente, Carnide; também conhecia o encarregado Simões, anos 60.