sexta-feira, 20 de julho de 2018

A vida do poeta José Fernandes Teixeixeira


            Vida já longa e dura de José Fernandes Teixeira   
     
           
                    
Nasceu em 14/7/1926 em Vila Seca de Poiares, Régua, Vila Real. E fez a 4ªclasse em 1937,
poesia à professora primária
            Colegas vamos para a escola
            Que temos que aprender bem
            Que a senhora professora
            É a nossa segunda mãe
           
No verão de 1948  com 22 anos fugiu de casa, depois de saber que havia trabalho de obras no Bºdo Caramão da Ajuda em Lisboa. Convem lembrar que tinha acabado a 2ªGuerra Mundial e havia falta de tudo e de trabalho, eram tempos miseráveis.
            O meu sonho
            É ver Lisboa
            Vêr o mar
            Que nunca vi

Foi à estação do comboio da Régua e pediu um bilhete para SªApolónia e não lho queriam vender, mas lá foi.
Chegado a Lisboa foi para a Ajuda, Bº do Caramão, onde arranjou trabalho,daqui ercreveu aos pais. E para dormir era debaixo de pontes e nos bancos dos jardins; nesse tempo as obras não tinham barracas nem contentores para dormitório dos empregados. Uma noite foi corrido pela polícia da rusga, dum banco de jardim onde estava a dormir.
            poesia do desalento
Já pensei
Que a minha vida
Estava a chegar ao fim

Arranjei uns pais adoptivos
Que me deram a mão
Eram boa gente
Tinham bom coração
Andou pelas obras cerca de 5 anos, no Inverno ia para a “terra”-Vila Seca de Poiares. Depois do Bº do Caramão da Ajuda, andou a desmanchar a piscina do palácio dum Conde na R.Pinto Ferreira e em frente na Rua do nº19-3º grita o Sr Gomes para falar com o encarregado. No fim desse dia sábado,  o encarregado perguntou a todos quem é que queria ir trabalhar no domingo a plantar árvores no jardim do prédio nº19, e só o José Teixeira aceitou e combinou depois com o Sr Gomes o ordenado, ele que ganhava 20$00/dia ficou a ganhar 40$00/dia nesse trabalho extra e depois como jardineiro do prédio.
O Sr Gomes, que era bancário no BNU na R.Boavista, gostou do trabalho do jardineiro e um dia propos arranjar-lhe trabalho, apresentando 3 propostas:
            1-Ir para o ultramar, não aceitou.
            2-Ir para guarda-freire, condutor de eléctricos na Carris, não dava, era preciso ter 1,65m de altura. Ou ir para as oficinas, era estar fechado, não quiz.
            3-Ir para “Almeida” * na CMLisboa, ao que aceitou de seguida.



  
Posto de Limpeza da Boa-Hora (DHU-DLU-Z1) 

       Onde foi jardineiro e arranjou caminho p/CML  






 Conseguiu trabalho na CMLisboa, como cantoneiro na Ajuda, Largo da Boa Hora em 13/4/1953 onde ficou até 1961, aqui tinham camaratas para dormir. Aqui concorreu a Capataz, de 60 ficaram 23, sendo ele um deles, com vantagem de ter a 4ªclasse.

Casa de habitação, como já tinha um filho de 4 meses pensou em alugar um quarto e assim aconteceu por 180$00/mês, nas Salésias ao campo do Belenenses; mandou vir a esposa com o filho. Passado tempo soube pelo barbeiro da CML na Ajuda que havia uma barraca nas terras do Palácio da Ajuda e aproveituu-a por 50$00/mês.
 Em 1961 soube do início da construção do BºPadre Cruz, escreveu ao Presidente da CML- General França Borges a pedir uma casa, queixando-se que vivia numa barraca na Ajuda com a familia e sem condições. Recebeu lá um polícia a confirmar e em 6/11/1961 recebeu a chave da casa na R.Rio Lena nº5 onde mora à 57anos, “outros tempos”.
 
       1970-O poeta José Fernandes Teixeira e a esposa Filomena Barbosa

Depois tentou ir para perto de casa, onde houvesse eléctrico, ainda não havia autocarros. Ainda em 1961 foi para a zona do Arco Cego e depois para Sete Rios junto ao Jardim Zoológico.
Finalmente ainda em 1961-foi para Carnide, quando houve uma vaga, onde concorreu e ficou como Capataz. As instalações eram debaixo do coreto e depois em ~1966 ao lado da escadaria na estrada da Correa.
           
            Poesia que dizia aos colegas da limpeza
            Enquanto houver
Vassoura e pá
Esta vida não está má

1974-a pedido da chefia foi para Benfica, instalações no Moinho do Jardim Silva Porto. Aqui devido ao bom desempenho e por pedido dum morador recebeu um louvor de OURO em 4/12/1989.

           
Voltou a concorrer em 1980, de 60 ficaram 28 e chegou a encarregado, onde se manteve até 1989, fazendo 36anos de serviço e pediu a aposentação.


Em jeito de terminar, pedi ao poeta José Teixeira o sêlo, pensou no começo da vida e como é aos 91anos:
            Noutros tempos meu netinho
Era o melhor dos meninos
            Não faziam ruindades
            Eram bons os pequeninos
            Iam para a escola contentes
            Vinham da escola a sorrir
            Não gritavam pelas ruas
            E não sabiam mentir

            Cá está o pobre velhinho
            A cantar neste cantinho
            De olhos pregados no chão
            Anda em busca de aventura
            Como quem anda à procura
            Nesta perdida ilusão


* Nota: “Almeida”= cantoneiro ou varredor de rua, antes do Presidente França Borges era outro que era de Almeida, e nessa tempo, anos 50, davam esse nome a quem varria as ruas devido à origem do presidente da CML.

Fontes:
            José Fernandes Teixeira, Bº Padre Cruz
            Rogério Vicente, Carnide; também conhecia o encarregado Simões, anos 60.

                                                                                  

domingo, 8 de julho de 2018

Sapateiro Armando desde 1953


                        Sapateiro Armando e o cliente João Villaret


                    
Nasceu em 1933 na aldeia de Ribeira, Góis. Com 17 anos em 1950 rumou a Lisboa à procura de melhor vida do que o campo. Arranjou trabalho de sapateiro como aprendiz em Santos o Velho.
Em 1953 com 19 anos, vai para uma engraxadoria na Rua da Boavista nº120 perto do elevador da Bica, no hall de entrada do prédio, onde havia 6 cadeiras para sentar os clientes enquanto engraxavam os sapatos. Aqui se manteve até hoje, há 65 anos. Nesse tempo havia 10 sapateiros nesta Rua.

      

Na continuidade das cadeiras havia uma arrecadação a aproveitar o espaço debaixo da escada, onde eram feitos arranjos de sapatos e sapatos novos à medida dos pés do cliente.








Nestes anos 50 e início de 60 morava em frente no 2ºandar o João Villaret, nascido ali mesmo em 10/5/1913 que era um cliente bom e generoso e já afamado no Teatro (menino de Ouro), o Armando engraxava-lhe os sapatos e ia levá-los a casa recebendo em vez dos 1$50 ...2$50.
O ritual do João Villaret, todos os dias esperava pelo Vasco Santana depois de almoço e aí pelas 15H, iam os dois para o Teatro. Em baixo à porta do prédio tinha sempre uma média de 6 velhotes a pedir, e o Villaret tinha sempre 5$00 trocados para cada um. No princípio dos anos 50 a vida era mais dura e ele partilhava do seu pão !


Com o 25 de Abril em 1974, esta profissão começou a desaparecer, até que na Rua da Boavista só ficou o sapateiro Armando. As cadeiras de engraxar foram vagando e sendo vendidas até que por fim apareceram uns Italianos que compraram as últimas duas para museu.

Depois do 25 de Abril o negócio é básicamente arranjos de sapatos e tem vindo sempre a dimínuir. Eu conheci-o por esta altura, pois trabalhava perto, e sempre que havia sapatos para consertar era no   Sr Armando, ficando sempre um trabalho impecável e também me aconselhava que os sapatos já não mereciam o arranjo. Também de manhã quando ia com colegas beber um café dávamos os bons dias e brincávamos um pouco com o Armando.


Actualmente o que mais faz é arranjos em sapatos comprados nos “Chineses”, que não prestam. No meio da conversa vem a comida, e o Armando recorda o almoço de “cozido à portuguesa” ao domingo na Parede, que agora por doença não pode comer.

 
Fontes:
   Armando João, sapateiro no activo  já com 85 anos.
   José Pereira, cliente desde 1973.