quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Vedor na Cabeça das Mós, Sardoal

 Vedor na Cabeça das Mós, Sardoal
                                                      Luís Francisco Pimenta Pereira


           
             Começou com uma brincadeira do antigo Vedor José Alves Pintado  da Cabeça das Mós, que estando no café da DªLuísa Pimenta no centro da aldeia, lhe propôs experimentar, aproximadamente em 1967 quando o Luís tinha 7 ou 8 anos. O José Pintado colocou o Luís à prova com a vara de oliveira e passado instantes exclamou, “ainda dá mais do que a mim”, e “quando vira a vara é porque há àgua”. E  de seguida colocou o primo António Pimenta Lopes que também tem sensibilidade de vedor.
            Prosteriormente,  cerca dos 10 anos ensinaram ao Luís Pereira a forma mais acertiva de marcar um furo para água:
-marcar de nascente e de norte, porque em geral é donde vem água
-depois marca-se de Este até cruzar a montante
-depois a jusante até fazer o cruzamento
A vara de oliveira não permite detectar a profundidade a que se encontra a água.
Radioestesia, é a sensibilidade que algumas pessoas têm a radiações e energias.


            Vedor, o que se detecta:
-água para abertura de furos ou poços.
-bancos de minério, quando o ramo está sempre a vibrar e vira, forma normalmente um retângulo.
-e aquíferos, tipo fendas no interior da terra tipo lagoa.
Quando a vara exerce pressão e vira há probabilidade de existir água.




Trabalho que ao longo de anos tem feito de forma gratuita, às vezes tem gente à espera que o Luís vá à aldeia para marcar furos.
Costuma beber  um copo de vinho tinto no fim porque ajuda, este ato de Vedor, faz palpitar o coração e o vinho ajuda!

Nota: No passado recente antes de comprar um terreno na aldeia era aconselhável mandar verificar se o terreno tem água, aconteceu commigo nos anos 80, foi lá o José Pintado e no fim tive que lhe pagar um copo de vinho tinto na taberna da Ti Marta.

Fontes:           
            Beatriz Pimenta
            Luís Pimenta Pereira
            José Pereira

                                                                                                         

sábado, 24 de agosto de 2019

Injecções sem agulha em Carnide


            Injecções sem agulha

 Em Carnide,morava a “ enfermeira” Irene; a sua formaçao tinha sido a prática no dia a dia.
Desde os anos 1950 a 1985, a avó da Palmira e da Lili, exerceu como enfermeira; era tipo “João Semana”:
Não  cobrava dinheiro pelos os seus serviços aos pobres, só a quem tinha posses.


Começou no Dispensário da SCMLx, na Estrada de Benfica nº323, perto do Bairro Grandela.
Inicialmente, distribuia as farinhas e os xaropes às pessoas, aviava as receitas passadas pelo Dr Damas Mora.
Mais tarde a sogra saíu, e ela começou a dar também injecções,  passado algum tempo a SCMLx queria lá uma enfermeira com diploma, mas o Dr Damas Mora responsabilizou-se por ela e ficou.

Injecções sem agulha à miudagem
As crianças,tinham medo de levar injecções e quando era necessário,só menina Irene é que lhas dava,porque:

“a menina Irene das injecções não tem agulha? “
E ela, a Irene, mostrando a seringa, dizia-lhes:“vês alguma agulha?  Não !
Pode fazer doer um pouco porque eu tenho que carregar com o bico da seringa, as agulhas é só para os grandes”. Esfregava bem com o algodão embebido em álcool e aí espetava a agulha, mostrava a seringa depois da a agulha já estar espectada e avisava, agora é que vai doer um bocadinho porque vou encostar a seringa ao rabiosque e empurrar o liquido.
Mostrava a seringa na caixa e esfregando outra vez com o algodão para desinfectar , retirava a agulha do algodão onde a escondia, mostrando o algodão outra vez.
Das primeiras a levar injecção sem agulha em Carnide foi a neta Lili que dizia: Não dói porque é sem agulha. O algodão com o álcool escondia a agulha, ela batia forte com a mão e o algodão e logo metia a agulha, encaixava a seringa e ia metendo o liquido devagar.
            No fim, mostrava a seringa e o algodão que tinha a agulha escondida.
Fazia todo o trabalho de enfermagem pedido plos médicos, Dr Damas Mora e depois em Carnide pelo Dr Farinha:
            *pensos
            *injecções
            *partos, etc.
            De noite se a chamassem, ia a qualquer hora, acompanhada com o cão Benfica, às azinhagas dar injecções.
            A Dª Margarida (Guida) Vitorino Arantes de Oliveira conta que muitas vezes era em sua casa  que a enfermeira Irene ia estrelizar as agulhas e as seringas que eram de vidro. A Irene pedia à Maria Vitorino(avó da Guida) e levava um pequeno tacho para ferver durante alguns minutos, ficando OK.



Estojo da Menina Irene, de seringas e agulhas, para os diversos serviços:
-agulhas grandes para dar injecções (à esquerda), intramuscular, intraglutias
-agulhas médias para tirar sangue para análise (ao meio), endovenosas
-agulhas pequenas para dar soro, plasma, insulina (à direita), interdérmicas
Composição: seringa de vidro=embolo+corpo, canhão(adaptação vidro/metal), agulha

Os drogados
Nos anos 1970 em Carnide havia um grupo de jovens curiosos pela droga ,começaram a fumar uns charros e talvez outras drogas.
Eles juntavam-se no recanto de porta de garagem ao lado do restaurante Coreto, nesse tempo era a casa da DªIrene, ficavam na converseta pela noite dentro. A DªIrene pela 1 ou 2H da madrugada ouvia ruídos, abria a porta e ia ter com eles, pois conhecia-os de lhes dar injecções.
O que estão aqui a fazer? Os vossos pais estarão aflitos sem saber onde andam;  eles respondiam que estavam só na conversa.
Quando era inverno, convidava-os a entrar e bebiam um chá ou comiam uma sopa e dizia-lhes: vão para casa ter com os vossos pais, que já são horas. Se não àmanhã,  faço queixa aos vossos pais.

 Onde morou a “Menina Irene das injecções sem agulha”, actual restaurante Coreto.


Na sala mortuária em 1985, aquando do falecimento da menina Irene, pelas 2H da madrugada, entrou um grupo de rapazes e raparigas que fazem um circulo à volta da caixão com espanto de quem estava no velório, ficando todos em silêncio e receando por ser o grupo dos drogados. Não falaram a ninguém, ficando vários minutos em silêncio nesse circulo e abandonando de seguida a sala mortuária.
Recorda com carinho a neta Palmira, e também o Coelho que fazia parte deste grupo
apelida-a de grande Senhora Irene.




                          
   Neta Palmira                         Neta Maria Leonilde (LiLi)             Guida Vitorino Arantes de Oliveira

 Também a chamavam para partos, em geral na rua, a Lili recorda um parto na subida da Rua Neves Costa ao lado do palacete dos Arantes de Oliveira, uma Sª que vinha da Pontinha com compras e pariu ali mesmo, foram chamar a DªIrene. Ela fez o parto ali e foi depois elogiada por um médico pela qualidade que viu.
Conta a prima da Palmira, na década de 1950, a enfermeira Irene fez 2 partos em casa em cima de um canapé.
 Aconteceu vir uma senhora grávida a pé da Pontinha e quando chegou à escadaria do Alto do Poço já não aguentou mais e pediu ajuda, e foram chamar a enfermeira Irene que morava perto, onde é hoje o restaurante Coreto, logo levaram a grávida para casa e ali fez o parto. Depois a Sª já com a criança foi ao hospital e elogiaram o trabalho bem feito de parto. Posteriormente aconteceu outro parto semelhante, também já no fim do tempo e vinha também a pé da Pontinha.




 
  Em 2019 a Junta de Freguesia de Carnide quiz atribuir frases em vários pontos de Carnide velho, em jeito de gratidão da avó Irene, falaram com a neta Palmira que sugeriu as frases acima na fotografia na Rua Neves Costa.


Fontes:
            -Netas Palmira e Maria Leonilde (Lili)
            -SªMargarida (Guida) Vitorino Arantes de Oliveira

quinta-feira, 14 de março de 2019

Poetas e poesia

Poeta repentista António Felizardo 4


                      









Olha lá bem para mim
Para ver se eu te convenho
Sou muito bom rapaz
Mas dinheiro é que não tenho

Se eu tivesse a liberdade
Que o sol e a lua têm
Entrava na tua casa
Sem licença de ninguém

Se o teu novo namorado
Souber contas de somar
Não lhe contes o passado
Pois tens muito que contar

Nas ondas do teu cabelo
Ensinaste-me a nadar
Hoje que já estás careca
Ensina-me a patinar

Já chove, já está chovendo
Pingas de água no jardim
Graças a Deus que já tenho
Mulher fixe para mim

Se eu canto, dizem que eu canto
Se eu choro, dizem que eu choro
Se olho para ti e me rio
 dizem que te namoro

                  Amigos do café da 4ª, Ernesto, Aristides, Felizardo e Pereira(fotógrafo).

                                                                     
 

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Lagares de Vara


            Lagares de azeite de Vara
            Cabeça das Mós e Alcaravela, Sardoal



Este Lagar de azeite de Vara deve ser muito semelhante ao que existiu na Cabeça das Mós, na zona do colmeal, actual Rua 25 Abril do Ti Joaquim Belo. Ainda laborava nos anos 40 do século xx.
Em 1950 já estava desactivado, neste década serviu para exibir peças de teatro, promovidas e ensaiadas pelas professora primária Maria do Carmo. O Carlos Alberto Pires Coelho ensaiou lá a peça de teatro “RECITAS”. A Beatriz Lopes também se recorda de ir assistir lá ao teatro.














 Iluminação a azeite, candeia de 4 bicos do lagar

Moinho de galgas a tracção hidráulica, que no Ti Belo era tracção animal, com uma mula.

Vara enorme, normalmente de castanho com fuso sempre bem lubrificado e uma pedra grande de 1 a 2 toneladas, para prensar e extrair o azeite.


 


















Fazendo subir a pedra para extrair o azeite               O aperto das ceiras pela vara e o fuso c/ a pedra



O azeite depois de extraído. Daqui vai para as tarefas a decantar, ficando a água no fundo e o azeite em cima, depois as tarefas são purgadas por baixo até saír a água ruça toda para um depósito nos baixos do lagar, chamado “inferno”. O azeite vai então ser arrumado em vaselhame de barro ou de chapa.



Outros lagares e de vara existentes em Cabeça das Mós, todos desactivados:
            -Lagar de vara da Lapa, uns 20m depois da capela. Do Ti Luís Alpalhão.
Este lagar era movido pela roda de azenha, com água trazida pela levada  da ribeira de Entrevinhas. O Luís Santos do café ainda se lembra de lá ir levar azeitona com a carroça no fim dos anos 50 e 60. Com a construção da barragem desapareceu.
            -Lagar da Rua Casas Crespas, construído nos anos 40 por Boaventura Milheriço e o Camilo a 50% cada. A tracção era feita por um motor monocilindro a diesel, que transmitia por uma correia o movimento a um veio instalado em chumaceiras na parede do lagar  longitudinal, donde partiam correias para as várias funções; moenda, bateria, e uma prensa.
Nos anos 50 foi adaptado um dinamo de 12V que carregava duas baterias 12v, que alimentava a iluminação a 12v instalada no lagar. Este lagar foi adquirido pelo João Lagarinho.
            -Lagar do Ambrósio à EN; mas detido em 33% por António Ambrósio, Júlio Ambrósio e Miguel Moleiro. Já tinha um motor de 2 cilindros a diesel e duas prensas. O José Lopes trabalhou aqui alguns anos nas campanhas do azeite. Em ruínas.
            -Lagar das Cavadas de Manuel Alpalhão e mestre lagareiro, tinha instalado um motor de 2 cilindros e duas prensas. Transformado em habitação.
            -Lagar do Vale Porto, era de Manuel Dias Bia, depois Alcoino Alves e mais tarde adquirido por Joaquim Alves “pintado” que o transformou em serralharia. A família Bia chegado o tempo da azeitona contratava um rancho para a apanha e o lagar só trabalhava para esta família. O Manuel Pires Coelho ainda em 1945/6 fez reparações neste lagar.

Lagares de vara e outros existentes em Alcaravela, todos desactivados:
            -Lagar de vara de Amieira da Cova, Cabril, Porto Escuro e Cimo dos Ribeiros.
            -Lagar com motor a diesel no Cimo dos Ribeiros, Tojalinho, Panascos e Vale Formoso.
            Actualmente a azeitona de Alcaravela vai quase toda para os lagares de Montalegre, o da cooperativa e o do Mogno.
Nesta última campanha só abriu  a cooperativa de Montalegre e a “funda” foi baixa, inferior a 10, como exemplo duma medura de 402Kg de azeitona recebeu 37l de azeite.Neste lagar ainda se leva para casa o azeite da nossa azeitona.

Em Alcaravela, ainda no século XX, as serras à volta eram cobertas de oliveiras, o pinheiro bravo era pouco. Só nos anos 60 começou a desaparecer este olival e aparecer mais o pinho.
Nos casamentos, as famílias, informavam-se se o namorado tinha olival suficiente e só assim permitiam o namoro da filha; soube dum caso nos anos 60 na Presa.



Fontes:
-Maria do Céu de 86anos, filha do Ti Joaquim Belo.
-Fabrico de Azeite, por A.Urbano de Castro, edição da Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa 1932.
-Visita em 2016 a um lagar de vara em laboração, numa ribeira de Góis.
-Alcaravela memórias de um povo, pelo Dr. Augusto Serras, edição da C.M.Sardoal.
-José Lopes
-Manuel Mendes Pereira de 79anos, Presa
-Beatriz Lopes
-Carlos Alberto Pires Coelho