sábado, 24 de agosto de 2019

Injecções sem agulha em Carnide


            Injecções sem agulha

 Em Carnide,morava a “ enfermeira” Irene; a sua formaçao tinha sido a prática no dia a dia.
Desde os anos 1950 a 1985, a avó da Palmira e da Lili, exerceu como enfermeira; era tipo “João Semana”:
Não  cobrava dinheiro pelos os seus serviços aos pobres, só a quem tinha posses.


Começou no Dispensário da SCMLx, na Estrada de Benfica nº323, perto do Bairro Grandela.
Inicialmente, distribuia as farinhas e os xaropes às pessoas, aviava as receitas passadas pelo Dr Damas Mora.
Mais tarde a sogra saíu, e ela começou a dar também injecções,  passado algum tempo a SCMLx queria lá uma enfermeira com diploma, mas o Dr Damas Mora responsabilizou-se por ela e ficou.

Injecções sem agulha à miudagem
As crianças,tinham medo de levar injecções e quando era necessário,só menina Irene é que lhas dava,porque:

“a menina Irene das injecções não tem agulha? “
E ela, a Irene, mostrando a seringa, dizia-lhes:“vês alguma agulha?  Não !
Pode fazer doer um pouco porque eu tenho que carregar com o bico da seringa, as agulhas é só para os grandes”. Esfregava bem com o algodão embebido em álcool e aí espetava a agulha, mostrava a seringa depois da a agulha já estar espectada e avisava, agora é que vai doer um bocadinho porque vou encostar a seringa ao rabiosque e empurrar o liquido.
Mostrava a seringa na caixa e esfregando outra vez com o algodão para desinfectar , retirava a agulha do algodão onde a escondia, mostrando o algodão outra vez.
Das primeiras a levar injecção sem agulha em Carnide foi a neta Lili que dizia: Não dói porque é sem agulha. O algodão com o álcool escondia a agulha, ela batia forte com a mão e o algodão e logo metia a agulha, encaixava a seringa e ia metendo o liquido devagar.
            No fim, mostrava a seringa e o algodão que tinha a agulha escondida.
Fazia todo o trabalho de enfermagem pedido plos médicos, Dr Damas Mora e depois em Carnide pelo Dr Farinha:
            *pensos
            *injecções
            *partos, etc.
            De noite se a chamassem, ia a qualquer hora, acompanhada com o cão Benfica, às azinhagas dar injecções.
            A Dª Margarida (Guida) Vitorino Arantes de Oliveira conta que muitas vezes era em sua casa  que a enfermeira Irene ia estrelizar as agulhas e as seringas que eram de vidro. A Irene pedia à Maria Vitorino(avó da Guida) e levava um pequeno tacho para ferver durante alguns minutos, ficando OK.



Estojo da Menina Irene, de seringas e agulhas, para os diversos serviços:
-agulhas grandes para dar injecções (à esquerda), intramuscular, intraglutias
-agulhas médias para tirar sangue para análise (ao meio), endovenosas
-agulhas pequenas para dar soro, plasma, insulina (à direita), interdérmicas
Composição: seringa de vidro=embolo+corpo, canhão(adaptação vidro/metal), agulha

Os drogados
Nos anos 1970 em Carnide havia um grupo de jovens curiosos pela droga ,começaram a fumar uns charros e talvez outras drogas.
Eles juntavam-se no recanto de porta de garagem ao lado do restaurante Coreto, nesse tempo era a casa da DªIrene, ficavam na converseta pela noite dentro. A DªIrene pela 1 ou 2H da madrugada ouvia ruídos, abria a porta e ia ter com eles, pois conhecia-os de lhes dar injecções.
O que estão aqui a fazer? Os vossos pais estarão aflitos sem saber onde andam;  eles respondiam que estavam só na conversa.
Quando era inverno, convidava-os a entrar e bebiam um chá ou comiam uma sopa e dizia-lhes: vão para casa ter com os vossos pais, que já são horas. Se não àmanhã,  faço queixa aos vossos pais.

 Onde morou a “Menina Irene das injecções sem agulha”, actual restaurante Coreto.


Na sala mortuária em 1985, aquando do falecimento da menina Irene, pelas 2H da madrugada, entrou um grupo de rapazes e raparigas que fazem um circulo à volta da caixão com espanto de quem estava no velório, ficando todos em silêncio e receando por ser o grupo dos drogados. Não falaram a ninguém, ficando vários minutos em silêncio nesse circulo e abandonando de seguida a sala mortuária.
Recorda com carinho a neta Palmira, e também o Coelho que fazia parte deste grupo
apelida-a de grande Senhora Irene.




                          
   Neta Palmira                         Neta Maria Leonilde (LiLi)             Guida Vitorino Arantes de Oliveira

 Também a chamavam para partos, em geral na rua, a Lili recorda um parto na subida da Rua Neves Costa ao lado do palacete dos Arantes de Oliveira, uma Sª que vinha da Pontinha com compras e pariu ali mesmo, foram chamar a DªIrene. Ela fez o parto ali e foi depois elogiada por um médico pela qualidade que viu.
Conta a prima da Palmira, na década de 1950, a enfermeira Irene fez 2 partos em casa em cima de um canapé.
 Aconteceu vir uma senhora grávida a pé da Pontinha e quando chegou à escadaria do Alto do Poço já não aguentou mais e pediu ajuda, e foram chamar a enfermeira Irene que morava perto, onde é hoje o restaurante Coreto, logo levaram a grávida para casa e ali fez o parto. Depois a Sª já com a criança foi ao hospital e elogiaram o trabalho bem feito de parto. Posteriormente aconteceu outro parto semelhante, também já no fim do tempo e vinha também a pé da Pontinha.




 
  Em 2019 a Junta de Freguesia de Carnide quiz atribuir frases em vários pontos de Carnide velho, em jeito de gratidão da avó Irene, falaram com a neta Palmira que sugeriu as frases acima na fotografia na Rua Neves Costa.


Fontes:
            -Netas Palmira e Maria Leonilde (Lili)
            -SªMargarida (Guida) Vitorino Arantes de Oliveira