Injecções
sem agulha
Em
Carnide,morava a “ enfermeira” Irene; a sua formaçao tinha sido a prática no dia
a dia.
Desde os anos 1950 a 1985, a avó
da Palmira e da Lili, exerceu como enfermeira; era tipo “João Semana”:
Não cobrava dinheiro pelos os seus serviços aos
pobres, só a quem tinha posses.
Começou no Dispensário da SCMLx, na Estrada de
Benfica nº323, perto do Bairro Grandela.
Inicialmente, distribuia as farinhas e os xaropes às
pessoas, aviava as receitas passadas pelo Dr Damas Mora.
Mais tarde a sogra saíu, e ela começou a dar também
injecções, passado algum tempo a SCMLx
queria lá uma enfermeira com diploma, mas o Dr Damas Mora responsabilizou-se
por ela e ficou.
Injecções sem agulha à miudagem
As crianças,tinham medo de levar injecções e quando era
necessário,só menina Irene é que lhas dava,porque:
“a menina Irene das
injecções não tem agulha? “
E ela, a Irene, mostrando a seringa, dizia-lhes:“vês alguma
agulha? Não !
Pode fazer doer um pouco porque eu tenho que carregar com o
bico da seringa, as agulhas é só para os grandes”. Esfregava bem com o algodão
embebido em álcool e aí espetava a agulha, mostrava a seringa depois da a
agulha já estar espectada e avisava, agora é que vai doer um bocadinho porque
vou encostar a seringa ao rabiosque e empurrar o liquido.
Mostrava a seringa na caixa e esfregando outra vez com o
algodão para desinfectar , retirava a agulha do algodão onde a escondia,
mostrando o algodão outra vez.
Das primeiras a levar injecção
sem agulha em Carnide foi a neta Lili que dizia: Não dói porque é sem
agulha. O algodão com o álcool escondia a agulha, ela batia forte com a mão e o
algodão e logo metia a agulha, encaixava a seringa e ia metendo o liquido
devagar.
No fim,
mostrava a seringa e o algodão que tinha a agulha escondida.
Fazia todo o trabalho de enfermagem pedido plos médicos, Dr
Damas Mora e depois em Carnide pelo Dr Farinha:
*pensos
*injecções
*partos,
etc.
De noite se
a chamassem, ia a qualquer hora, acompanhada com o cão Benfica, às azinhagas
dar injecções.
A Dª Margarida (Guida)
Vitorino Arantes de Oliveira conta que muitas vezes era em sua casa que a enfermeira Irene ia estrelizar as
agulhas e as seringas que eram de vidro. A Irene pedia à Maria Vitorino(avó da
Guida) e levava um pequeno tacho para ferver durante alguns minutos, ficando
OK.
Estojo da Menina Irene,
de seringas e agulhas, para os diversos serviços:
-agulhas grandes para dar injecções (à esquerda),
intramuscular, intraglutias
-agulhas médias para tirar sangue para análise (ao meio),
endovenosas
-agulhas pequenas para dar soro, plasma, insulina (à
direita), interdérmicas
Composição: seringa de vidro=embolo+corpo, canhão(adaptação
vidro/metal), agulha
Os drogados
Nos anos 1970 em Carnide havia um grupo de jovens curiosos
pela droga ,começaram a fumar uns charros e talvez outras drogas.
Eles juntavam-se no recanto de porta de garagem ao lado do
restaurante Coreto, nesse tempo era a casa da DªIrene, ficavam na converseta pela
noite dentro. A DªIrene pela 1 ou 2H da madrugada ouvia ruídos, abria a porta e
ia ter com eles, pois conhecia-os de lhes dar injecções.
O que estão aqui a fazer? Os vossos pais estarão aflitos sem
saber onde andam; eles respondiam que
estavam só na conversa.
Quando era inverno, convidava-os a entrar e bebiam um chá ou
comiam uma sopa e dizia-lhes: vão para casa ter com os vossos pais, que já são
horas. Se não àmanhã, faço queixa aos
vossos pais.
Onde morou a “Menina
Irene das injecções sem agulha”, actual restaurante Coreto.
Na sala mortuária em 1985, aquando do falecimento da
menina Irene, pelas 2H da madrugada, entrou um grupo de rapazes e raparigas que
fazem um circulo à volta da caixão com espanto de quem estava no velório,
ficando todos em silêncio e receando por ser o grupo dos drogados. Não falaram
a ninguém, ficando vários minutos em silêncio nesse circulo e abandonando de
seguida a sala mortuária.
Recorda com carinho a neta Palmira, e também o Coelho que
fazia parte deste grupo
apelida-a de grande Senhora Irene.
Neta Palmira Neta Maria Leonilde (LiLi) Guida Vitorino Arantes de Oliveira
Também a chamavam para partos, em geral na rua, a
Lili recorda um parto na subida da Rua Neves Costa ao lado do palacete dos
Arantes de Oliveira, uma Sª que vinha da Pontinha com compras e pariu ali
mesmo, foram chamar a DªIrene. Ela fez o parto ali e foi depois elogiada por um
médico pela qualidade que viu.
Conta a prima da Palmira, na década de 1950, a enfermeira
Irene fez 2 partos em casa em cima de um canapé.
Aconteceu vir uma
senhora grávida a pé da Pontinha e quando chegou à escadaria do Alto do Poço já
não aguentou mais e pediu ajuda, e foram chamar a enfermeira Irene que morava
perto, onde é hoje o restaurante Coreto, logo levaram a grávida para casa e ali
fez o parto. Depois a Sª já com a criança foi ao hospital e elogiaram o
trabalho bem feito de parto. Posteriormente aconteceu outro parto semelhante,
também já no fim do tempo e vinha também a pé da Pontinha.
Em 2019 a Junta de Freguesia de Carnide quiz atribuir frases
em vários pontos de Carnide velho, em
jeito de gratidão da avó Irene, falaram com a neta Palmira que sugeriu
as frases acima na fotografia na Rua Neves Costa.
Fontes:
-Netas
Palmira e Maria Leonilde (Lili)
-SªMargarida (Guida) Vitorino
Arantes de Oliveira