sábado, 17 de julho de 2021

Colégio Militar Sargento Nunes_Perfeito e Alfaiate


Sargento Nunes, da tropa foi para o Colégio Militar, onde ficou de 1910 a 1968

 

Alfredo António Nunes, nasceu em JF Belém em 1889, casou em 1919 em S.Mamede , Lisboa, com Laura Mendes Nunes, e tiveram 3 filhos.

 

A história de vida em termos de viagens do pai da Vergínia/DªGina N1932, contada na 1ªpessoa, pela filha.

 “Era uma pessoa boa, civilizada e interessada por muitas coisas. Acho que era também alguém que sem ser rico, (no tempo em que ele - e todas as pessoas da classe média – eram pobres) conseguiu, com coragem, imaginação, e espíríto de sacrifício, concretizar alguns sonhos.

Quando eu nasci o meu pai tinha 44 anos. Tinha já perdido 2 filhos. Isto contribuiu para ser uma menina mimada. Apesar da óptima formação que ele tentou dar-me, tenho bastantes defeitos de filha única. No entanto sei que ele não foi o responsável.

            Voltando à vida dele ; adorava viajar. Então o que fez:

 A primeira foi em África. Havia a guerra com as forças do Gungunhana .  O meu pai estava a cumprir o serviço militar e ofereceu-se como voluntário. No entanto quando lá chegou a Moçambique, a guerra já tinha acabado. Parece a guerra do Solnado, não é?

Voltando às outras viagens o meu pai foi parar aos EUA. No dia em que teria de regressar fingiu que perdeu o barco, arranjando trabalho como alfaiate.

            O meu avô paterno era alfaiate e ensinou o oficício aos 3 filhos (o meu pai, um irmão e uma irmã).

            Para continuar nos Estados Unidos teria de se naturalizar. Ele não queria deixar de ser português, pelo que se veio embora. Na viagem de regresso escolheu um barco que veio por Vigo, o que lhe proporcionou conhecer uma cidade de Espanha.      

 Colégio Militar onde foi Sargento Perfeito e Alfaiate

Casa em Carnide na Azinhaga das Freiras 

 

Anos depois, já casado e com uma filha voltou aos EUA. Foi nessa altura que a minha irmanzinha morreu. A minha mãe disse-lhe que sem filha e sem marido não queria estar. Ele voltou então para Lisboa, não sem ter escolhido um barco que veio por Inglaterra.

            Algum tempo depois pensou ir a Pinhel (que não conhecia e era a terra da sua mãe). Como não tinha dinheiro resolveu ir de bicicleta. A meio do caminho começou a chover. Mais uma vez o ofício valeu-lhe. Ofereceu-se para trabalhar numa alfaiataria enquanto a chuva não parasse. Quando os dias de chuva passaram continou a viagem.

            Logo que chegou a Pinhel disse de quem era filho, pelo que lhe informaram vários familiares.

           Assim acabaram as aventuras. 

            Não gostaria de escrever mais porque tenho receio de enfadar quem teve o interesse em ler estas linhas, mas há uma coisa que define o carácter de meu pai. Vou tentar ser breve.

            Ele trabalhou muitos anos no Colégio Militar, onde obviamente conheceu muitos jovens que vieram a tornar-se pessoas importantes.

            Anos mais tarde soube que uma dessas pessoas era um almirante que iria ao Brasil entregar um barco. Pediu-lhe para o levar. O Senhor disse-lhe que sim, mas que voltariam de avião, pelo que o meu pai teria de regressar às suas custas. Embora a minha tia vivesse lá e, portanto, ele não precisaria de hotel, mas não tínhamos 6 mil escudos que era o preço duma viagem para Lisboa.

            Pouco tempo antes de morrer o meu pai disse que Deus tinha-lhe dado tudo o que ele desejava, menos deixá-lo ir ao Brasil.

Não sei se é desde essa ocasião, mas considero que a seguir à saúde a coisa mais importante da vida é o dinheiro.

            Peço desculpa mas soube-me bem relembrar uma pessoa tão importante na minha vida”.

                                                    

 Notas:

-O Sargento Nunes não sendo alfaiate no Colégio trazia fatos para acabar em casa, onde tinha ajudas da esposa e da Vizinha Aurora, tia do Rogério. Estamos nos anos 1944  a 1949 . O Rogério com 8anos ia sempre com a tia ao serão(trabalho nocturno) e a Gina emprestava-lhe livros de desenhos animados e aventura para lêr, como  “o cavaleiro andante”, “mosquito” e “tim-tim” e a revista que saía no jornal o século.

-A Esposa Laura, fazia mais trabalhos de alfaiataria e costura e quem ia entregar os trabalhos era o sargento Nunes, que punha mais algum dinheiro, ex se era 20$00 ficava em 25$00 e com os 5$00 fazia um mealheiro anual que era para as férias.

-A Gina foi trabalhar de secretária para os filmes Castelo Lopes, sendo uma pessoa muito culta, era sempre escolhida para escrever alguma carta ou ofício fora do comum. 

–José Pereira, quando a conheci melhor com cerca de 80anos andava a rever o que sabia de Alemão na JF de Carnide, ela gosta muito de línguas e de comunicar com o outro.

 Fontes:

-Vergínia / Gina, filha do Sargento Nunes

-Rogério Vicente, N1938 e mora na R.Neves Costa

-Eugénia, empregada da DªGina, que foi por mais de 30 anos, desde os anos 1980 e que trabalhou no Convento de SªTeresa de Carnide; agora lar onde está actualmente a DªGina.

-José Pereira autor do Blog