Memórias vivênciadas por António
José Lopes Alpalhão
Maio e Junho fazia-se
a ceifa do trigo por um rancho. Em finais de Junho, as mulheres traziam
molhos de trigo para a eira, num carro de parelha; estendiam-nos na eira para
perder a humidade.
Depois um homem no meio da eira, conduzia duas mulas com
cara tapada que andavam de volta e com as patas descascavam o trigo e partiam a
palha.
-retirava-se
a palha e guardava-se no palheiro.
-fazia-se a
limpeza do trigo por padejamento, e era recolhido para arcas de madeira
grandes.
Havia na ribeira da Arcêz, no Pisão de Bruxo duas azenhas e
uma nos Pintos/Escorrega.
O moleiro enfarinhado do Pisão de Bruxo, passava na Quinta
duas vezes por semana com o burro. Trazia o cereal moido, e levava mais 2 a 3
alqueires de trigo e ou milho.
A azenha
trabalhava práticamente o ano inteiro, havia muita água que era controlada nas
represas e açúdes. As levadas das azenhas também tinham ao longo do percurso
comportas para regar hortas.
Criava-se
trigo, milho e pouco centeio e cevada.
Também se
fazia farinha de fava. As favas primeiro eram torradas e depois iam à azenha.
Esta farinha era usada ao pequeno almoço com papas de leite.
A azenha trabalhava até finais de Junho e depois só
recomeçava com as primeiras chuvas em Outubro.
O forno da
quinta, trabalhava, de 15 em 15 dias, cozendo a quantidade de pão necessário
para a casa incluíndo para alguns trabalhadores fixos.
Julho e Agosto,
tempo das hortas, dos frescos tais como: alface, tomate, pimento e feijão
verde.
No mês de Agosto faziam-se as descamisadas na eira, depois
do sol posto até à meia noite a uma hora da madrugada, acompanhadas de um
garrafão de vinho que ia passando de pessoa para pessoa; as mulheres bebiam
pouco, os homens é que bebiam muito.
Finais de Outubro,
vinham os ranchos de fora da aldeia, durante 1 a 1,5 meses para a apanha da
azeitona que era moída no lagar de família do Manuel Alpalhão. No final quando
acabava a apanha da azeitona, fazia-se uma ceia
chamada das filhoses, e vinha um
indíviduo com concertina para se fazer um bailarico.
Nos finais da década de 1950, já em 1959, vieram as
debulhadoras, que se instalaram na Rua das Casas Crespas, terreno atrás da
escola primária. Neste 1ºano só debulhavam, a palha saía partida, no ano
seguinte a máquina já fazia também o enfardamento da palha, acabando assim com
os animais na debulha.
A quinta tinha um rebanho de cabras e ovelhas, cerca
de 50, guardadas pelo pastor Hermínio. Fazia-se o queijo fresco e seco.
Tinha uma vacaria com vacas que davam leite para queijos e
para venda direta ao público. Era pelas 7H da manhã a 1ª mugidela e às 19H a
2ªmugidela. Depois acabaram as ovelhas e cabras, ficaram só as vacas.
Manjedoura
das vacas
Matança do porco, era anual, em Dezembro. Matava-se 1
a 2 porcos para abastecimento da casa.
1947-da esquerda para a direita, diz o António José Lopes
Alpalhão: Ti Vergílio-carroceiro da casa, António Lopes Alpalhão, Irene,
António Antunes Leitão-avô materno, Maria-prima, tio joaquim formado irmão da
Irene, tio Manuel Lopes Alpalhão, José Lopes Alpalhão-avô paterno, primo da
Irene, tia Maria do Carmo.
Foram professoras primárias na escola da Cabeça das Mós
as duas irmãs a partir da década de 1950, a Irene e a Maria do Carmo que
estavam casadas com os dois irmãos.
A Irene era
regente escolar e à posterior tirou o curso de professora primária.
A tia Maria do Carmo veio já como professora.
O tio avô padre Manuel Lopes Alpalhão, construíu a
1ªescola na Cabeça das Mós e a casa da professora, actualmente é do
Milheriço. O mesmo tio avô padre construíu a 1ªcasa amarela de SºAntónio em
1933 e depois foi reconstruida em 1953 pelos filhos.
O avô paterno
tinha uma mercearia (onde tinha tudo desde bacalhau a petróleo) em Medelim,
Idanha-a-Nova e queria que o filho António fosse para lá e assim foi durante 3
anos 1947 a 1950; ano em que o pai veio para a Cabeça das Mós para a casa da
quinta de SºAntónio.
A casa tem uma adega onde se fazia vinho e o excesso
era vendido. Havia ainda o fabrico de aguardente, durante todo o ano,
de:
-passa de
figo
-e de
engarço, esta não era para venda.
Quem trabalhava no alambique, era o Inácio de Entre Serras e
depois e por muitos anos foi o Manuel Antunes “Aguardente”, foto abaixo.
A casa tinha uma torre com um dinamo eólico movido
pelo vento, que carregava uma bateria de 12v, daqui ligava às lâmpadas de 12v
para iluminação da casa a fio de cobre nú e ligava-se muito pouco devido ao
consumo. Os 12v eram práticamente só para o rádio a válvulas, para ouvir as
notícias.
Isto funcionou desde ~1950 até chegar a electricidade em
~1970.
Torre onde funcionou o dinamo eólico
A quinta começou
com o pai António Lopes Alpalhão e o tio Manuel Lopes Alpalhão no início da
década de 1950, já com o princípio da sustentabilidade, sendo autosuficiente
e vendendo o excesso, tendo venda diária de leite, queijos e aguardente. Quando
hoje se ouve falar em sustentabilidade como uma inovação!....
A quinta também tem um pomar de citrinos, nomeadamente: Laranjas,
Tangerinas e Limões. Onde tinha um tipo de laranjas da Baia que estava sempre
vendida ao Hotel de Turismo de Abrantes.
A sustentabilidade, sempre foi e é mais do que nunca
necessária porque os recursos do planeta e as alterações climatéricas assim o
obrigam para sobrevivência das gerações futuras.!
A quinta tinha 6
trabalhadores fixos anualmente, e os outros eram sazonais.
-o carroceiro, transportava tudo e fazia as lavouras.
-um pastor
-um vaqueiro
-duas criadas para o serviço da casa
-o destilador de aguardente, que só parava cerca de 2 meses
quando acabava o figo
Padre Manuel Lopes
Alpalhão, tio avô do António José Lopes Alpalhão, foi ele que construíu a
1ªcasa em 1933 e a capela em 1898.
Nasceu no lugar
de Cabeça das Mós, freguesia de São Tiago e São Mateus do Sardoal, em 28 de
Fevereiro de 1865, filho de José Lopes Alpalhão e de Mariana Joaquina
ou Mariana Maria.
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Por decreto de 19
de Julho desse mesmo ano é apresentado na Igreja Paroquial de Santa Maria
Madalena da Aldeia do Mato onde é colado a 20 de Dezembro, tomando posse a 2 de
Janeiro de 1901, sendo, a partir de 1921, por duas vezes, encarregado,
acumulando, da freguesia de São Miguel de Martinchel.
O último despacho
do seu “curriculum” tem a data de 22 de Outubro de 1931. Faleceu a 13 de Março
de 1937, na sua aldeia natal, na situação de dispensado do serviço por idade e
doença.
Capela de
SºAntónio datada de 1898, frente ao portão da quinta
Fontes:
-António José Lopes Alpalhão
-José Pimenta Lopes
-site: www.sardoalmemoria.net
, figuras ilustres de Sardoal
-Adelino Pimenta Lopes
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