segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Quinta de SºAntónio, Cabeça das Mós, Sardoal



                       
Memórias vivênciadas por António José Lopes Alpalhão

 
         
Maio e Junho fazia-se a ceifa do trigo por um rancho. Em finais de Junho, as mulheres traziam molhos de trigo para a eira, num carro de parelha; estendiam-nos na eira para perder a humidade.
Depois um homem no meio da eira, conduzia duas mulas com cara tapada que andavam de volta e com as patas descascavam o trigo e partiam a palha.
            -retirava-se a palha e guardava-se no palheiro.
            -fazia-se a limpeza do trigo por padejamento, e era recolhido para arcas de madeira grandes.
Havia na ribeira da Arcêz, no Pisão de Bruxo duas azenhas e uma nos Pintos/Escorrega.
O moleiro enfarinhado do Pisão de Bruxo, passava na Quinta duas vezes por semana com o burro. Trazia o cereal moido, e levava mais 2 a 3 alqueires de trigo e ou milho.
            A azenha trabalhava práticamente o ano inteiro, havia muita água que era controlada nas represas e açúdes. As levadas das azenhas também tinham ao longo do percurso comportas para regar hortas.
            Criava-se trigo, milho e pouco centeio e cevada.
            Também se fazia farinha de fava. As favas primeiro eram torradas e depois iam à azenha. Esta farinha era usada ao pequeno almoço com papas de leite.
           
           

A azenha trabalhava até finais de Junho e depois só recomeçava com as primeiras chuvas em Outubro.

O forno da quinta, trabalhava, de 15 em 15 dias, cozendo a quantidade de pão necessário para a casa incluíndo para alguns trabalhadores fixos.


                       
Julho e Agosto, tempo das hortas, dos frescos tais como: alface, tomate, pimento e feijão verde.
No mês de Agosto faziam-se as descamisadas na eira, depois do sol posto até à meia noite a uma hora da madrugada, acompanhadas de um garrafão de vinho que ia passando de pessoa para pessoa; as mulheres bebiam pouco, os homens é que bebiam muito.

Finais de Outubro, vinham os ranchos de fora da aldeia, durante 1 a 1,5 meses para a apanha da azeitona que era moída no lagar de família do Manuel Alpalhão. No final quando acabava a apanha da azeitona, fazia-se uma ceia chamada das filhoses, e vinha um indíviduo com concertina para se fazer um bailarico.

Nos finais da década de 1950, já em 1959, vieram as debulhadoras, que se instalaram na Rua das Casas Crespas, terreno atrás da escola primária. Neste 1ºano só debulhavam, a palha saía partida, no ano seguinte a máquina já fazia também o enfardamento da palha, acabando assim com os animais na debulha.

A quinta tinha um rebanho de cabras e ovelhas, cerca de 50, guardadas pelo pastor Hermínio. Fazia-se o queijo fresco e seco.
Tinha uma vacaria com vacas que davam leite para queijos e para venda direta ao público. Era pelas 7H da manhã a 1ª mugidela e às 19H a 2ªmugidela. Depois acabaram as ovelhas e cabras, ficaram só as vacas.
 
            Manjedoura das vacas

  

Matança do porco, era anual, em Dezembro. Matava-se 1 a 2 porcos para abastecimento da casa.
 
1947-da esquerda para a direita, diz o António José Lopes Alpalhão: Ti Vergílio-carroceiro da casa, António Lopes Alpalhão, Irene, António Antunes Leitão-avô materno, Maria-prima, tio joaquim formado irmão da Irene, tio Manuel Lopes Alpalhão, José Lopes Alpalhão-avô paterno, primo da Irene, tia Maria do Carmo.

Foram professoras primárias na escola da Cabeça das Mós as duas irmãs a partir da década de 1950, a Irene e a Maria do Carmo que estavam casadas com os dois irmãos.
            A Irene era regente escolar e à posterior tirou o curso de professora primária.
A tia Maria do Carmo veio já como professora.
O tio avô padre Manuel Lopes Alpalhão, construíu a 1ªescola na Cabeça das Mós e a casa da professora, actualmente é do Milheriço. O mesmo tio avô padre construíu a 1ªcasa amarela de SºAntónio em 1933 e depois foi reconstruida em 1953 pelos filhos.
            O avô paterno tinha uma mercearia (onde tinha tudo desde bacalhau a petróleo) em Medelim, Idanha-a-Nova e queria que o filho António fosse para lá e assim foi durante 3 anos 1947 a 1950; ano em que o pai veio para a Cabeça das Mós para a casa da quinta  de SºAntónio.

A casa tem uma adega onde se fazia vinho e o excesso era vendido. Havia ainda o fabrico de aguardente, durante todo o ano, de:
            -passa de figo
            -e de engarço, esta não era para venda.
Quem trabalhava no alambique, era o Inácio de Entre Serras e depois e por muitos anos foi o Manuel Antunes “Aguardente”, foto abaixo.


A casa tinha uma torre com um dinamo eólico movido pelo vento, que carregava uma bateria de 12v, daqui ligava às lâmpadas de 12v para iluminação da casa a fio de cobre nú e ligava-se muito pouco devido ao consumo. Os 12v eram práticamente só para o rádio a válvulas, para ouvir as notícias.
Isto funcionou desde ~1950 até chegar a electricidade em ~1970.

Torre onde funcionou o dinamo eólico

 A quinta começou com o pai António Lopes Alpalhão e o tio Manuel Lopes Alpalhão no início da década de 1950, já com o princípio da sustentabilidade, sendo autosuficiente e vendendo o excesso, tendo venda diária de leite, queijos e aguardente. Quando hoje se ouve falar em sustentabilidade como uma inovação!....
A quinta também tem um pomar de citrinos, nomeadamente: Laranjas, Tangerinas e Limões. Onde tinha um tipo de laranjas da Baia que estava sempre vendida ao Hotel de Turismo de Abrantes.
A sustentabilidade, sempre foi e é mais do que nunca necessária porque os recursos do planeta e as alterações climatéricas assim o obrigam para sobrevivência das gerações futuras.!

A quinta tinha 6 trabalhadores fixos anualmente, e os outros eram sazonais.
-o carroceiro, transportava tudo e fazia as lavouras.
-um pastor
-um vaqueiro
-duas criadas para o serviço da casa
-o destilador de aguardente, que só parava cerca de 2 meses quando acabava o figo


Padre Manuel Lopes Alpalhão, tio avô do António José Lopes Alpalhão, foi ele que construíu a 1ªcasa em 1933 e a capela em 1898.
Nasceu no lugar de Cabeça das Mós, freguesia de São Tiago e São Mateus do Sardoal, em 28 de Fevereiro de 1865, filho de José  Lopes Alpalhão e de Mariana Joaquina ou Mariana Maria.

Por decreto de 19 de Julho desse mesmo ano é apresentado na Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena da Aldeia do Mato onde é colado a 20 de Dezembro, tomando posse a 2 de Janeiro de 1901, sendo, a partir de 1921, por duas vezes, encarregado, acumulando, da freguesia de São Miguel de Martinchel.

O último despacho do seu “curriculum” tem a data de 22 de Outubro de 1931. Faleceu a 13 de Março de 1937, na sua aldeia natal, na situação de dispensado do serviço por idade e doença.


                               Capela de SºAntónio datada de 1898, frente ao portão da quinta




Fontes:
-António José Lopes Alpalhão
-José Pimenta Lopes
-site: www.sardoalmemoria.net , figuras ilustres de Sardoal
-Adelino Pimenta Lopes

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