Sapateiro
Armando e o cliente João Villaret
Nasceu em 1933 na aldeia de Ribeira, Góis. Com 17 anos em
1950 rumou a Lisboa à procura de melhor vida do que o campo. Arranjou trabalho
de sapateiro como aprendiz em Santos o Velho.
Em 1953 com 19 anos, vai para uma engraxadoria na Rua da Boavista nº120 perto do elevador da Bica, no hall
de entrada do prédio, onde havia 6 cadeiras para sentar os clientes enquanto
engraxavam os sapatos. Aqui se manteve até hoje, há 65 anos. Nesse tempo havia
10 sapateiros nesta Rua.
Na continuidade das cadeiras havia uma arrecadação a
aproveitar o espaço debaixo da escada, onde eram feitos arranjos de sapatos e sapatos
novos à medida dos pés do cliente.
Nestes anos 50 e início de 60 morava em frente no 2ºandar o João Villaret, nascido ali mesmo
em 10/5/1913 que era um cliente bom e generoso e já afamado no Teatro (menino
de Ouro), o Armando engraxava-lhe os sapatos e ia levá-los a casa
recebendo em vez dos 1$50 ...2$50.
O ritual do João Villaret, todos os dias esperava pelo Vasco
Santana depois de almoço e aí pelas 15H, iam os dois para o Teatro. Em baixo à porta do prédio tinha sempre uma média de 6 velhotes a pedir, e o Villaret tinha sempre 5$00 trocados para cada um. No princípio dos anos 50 a vida era mais dura e ele partilhava do seu pão !
Com o 25 de Abril em 1974, esta profissão começou a
desaparecer, até que na Rua da Boavista só ficou o sapateiro Armando. As cadeiras de engraxar foram vagando e sendo
vendidas até que por fim apareceram uns Italianos que compraram as últimas duas
para museu.
Depois do 25 de Abril o negócio é básicamente arranjos de
sapatos e tem vindo sempre a dimínuir. Eu conheci-o por esta altura, pois
trabalhava perto, e sempre que havia sapatos para consertar era no Sr Armando, ficando
sempre um trabalho impecável e também me aconselhava que os sapatos já não
mereciam o arranjo. Também de manhã quando ia com colegas beber um café
dávamos os bons dias e brincávamos um pouco com o Armando.
Actualmente o que mais faz é arranjos em sapatos comprados
nos “Chineses”, que não prestam. No meio da conversa vem a comida, e o Armando
recorda o almoço de “cozido à portuguesa” ao domingo na Parede, que agora por
doença não pode comer.
Fontes:
Armando João,
sapateiro no activo já com 85 anos.
José Pereira,
cliente desde 1973.
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