quinta-feira, 12 de maio de 2016

A cor no cartaz, 1976



Já vem dos primórdios da civilização o desejo de o homem comunicar as suas ideias e crenças.
Ele começa por pintar nas paredes das  cavernas quadros alusivos à sua religião.
Mais tarde, este meio repercute-se e evolui. Nas ruínas da Mesopotâmia, Grécia e Roma aparece-nos frases ilustradas de propaganda política.
Hoje, mais do que nunca, devido ao desenvolvimento da técnica, o cartaz ganha grande relevo social.
É o meio publicitário mais acessível ao público. Encontra-se por todo o lado, na rua, nos estabelecimentos, como que impondo-se, ao mesmo tempo que dá um tom alegre e decorativo ao local

onde se encontra.

Mas antes de aparecer junto do público, o cartaz é planeado e rigorosamente estudado em todos os aspectos.
Ele tem de despertar imediatamente a atenção, ao mesmo tempo que dá o máximo de informação sobre o tema que versa.
Assim, as possibilidades informativas de um cartaz dependem de vários factores:
-localização;
-texto;
-foto ou desenho;
-a cor.
            A localização deve ser feita nos locais de maior circulação do público. O texto, curto e acessível. O desenho ou foto vão concretizar o que o público sentirá ao ler o cartaz, levando-o a desejar adquirir o produto e até a sentir uma certa confiança no mesmo. Por fim, a cor.
Esta é o elemento mais importante do cartaz, porque ela despertará imediatamente a atenção do público. Mas o cartaz também pode ser a preto e branco, só que passa despercebido, enquanto o colorido se impõe apelando à curiosidade.
As cores do cartaz podem-nos dar variadíssimas sensações. Por exemplo: conforto , calor, equilíbrio, economia, alegria, etc. E como?
Ora, se analisarmos algumas cores, veremos que elas nos transmitem algo.
O vermelho é uma cor alegre, gritante. Pode-nos dar a sensação de calor, alegria. O verde e o azul, cores que não cansam, podem simbolizar para nós calma, frescura, segurança, ou frio, melancolia.
O amarelo é uma cor luminosa, dá uma certa alegria quando entra no conjunto, enquanto o laranja é uma cor estimulante.
Assim, no cartaz, estas cores devem ser usadas com o máximo de contraste. Mas sem magoar a visão do receptor. Porque esse tipo de publicidade, chamada de “choque”, não resulta. O contraste exagerado fere a vista, e não só. Ela exerce uma irritação sob o sistema nervoso, que faz o público evitá-la e, por vezes, criar aversão pelo produto anunciado.
Mas num cartaz podem-se usar variadas cores, tanto as quentes como as frias. Tem de ser é com um certo cuidado, nunca se deve exagerar na sua utilização. Porque isso dispersa o leitor, que, por vezes, vê tudo menos o produto anunciado.
Geralmente na periferia do cartaz usam-se as cores frias, indo gradativamente para o centro com as quentes, porque é o ponto chave do cartaz.
Todos estes factores têm de ser atendidos no cartaz, desenhado e pintado.
Mas hoje a foto colorida é a mais utilizada no cartaz. Por vezes, utiliza-se também a foto a preto e branco, mas geralmente está enquadrada numa cor que desperte a atenção. Então o fotógrafo tira uma série de fotos. Daí escolhe-se a mais adequada para anunciar o produto e aplica-se ao centro do cartaz, ou ela será o próprio cartaz. Assim o público vê o produto dentro do seu ambiente. É um processo bastante eficaz. Exemplo:
A Schwepes utilizou, para o lançamento dos seus sumos de frutos no mercado, o seguinte cartaz:

                                                


Como podemos observar, a foto colorida engloba; o fruto, a garrafa, que nos dá a marca e o copo com o sumo extraído.
Todo esse conjunto irá criar no público a confiança naquela marca, porque o sumo é autêntico. O que será óptimo para a saúde. Ao mesmo tempo que nos saciará a sede.
Se este cartaz não fosse colorido, perdia quase todo o seu valor. Porque o que desperta a atenção nele é o seu enorme fruto nas suas cores naturais. Depois, o texto é secundário, o raciocínio está feito.
E como este à uma infinidade de cartazes a cosméticos, doces, alimentos, sumos, vinhos, frutos, etc.
O conjunto de sensações, a motivação para adquirir o produto e de certo modo a confiança que sentimos nele, é-nos dada pelas cores que nos transmitem as suas mensagens, sem que nós nos apercebamos. Assim o seu impacto faz-nos adquirir o produto anunciado nos cartazes.
A cor é um jogo que faz parte do dia a dia e nos atrai de tal maneira que é difícil resistir-lhe. Ela é um pouco de nós. Através dela nós revelamos a nossa personalidade, o nosso carácter, os nossos desejos.
Ela faz-nos transparecer sem que nós nos apercebamos. Por isso ela é tão utilizada nos meios publicitários.

Por Maria de Fátima Penha Garcia,
aluna do curso complementar da Escola de Artes Decorativas de António Arroio.
Publicada na Revista Nacional de Artes Gráficas “PRELO”, Janeiro-Abril de 1976


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